Mosqueteiros
A praia naquele domingo de Carnaval era um caos dourado. Crianças berravam entre brincadeiras bobas, carros distribuíam amostras dos gostos musicais de seus donos, bolas mal jogadas pipocavam na areia. O dia era uma overdose de alegria quente. Mas em meio a essa histeria ensolarada, três sujeitos me ganharam o olhar.
Não buscavam sombra debaixo do guarda-sol, nem sequer o tinham. Não se aventuravam em selfies, tampouco pareciam interessados no desfile humano ao redor. Escolheram um pedaço de areia ao acaso, jogaram as mochilas surradas no chão, improvisaram um banco com uma tábua velha e dois tijolos. Abriram uma caixa térmica com latinhas de cerveja que já haviam perdido a batalha para o calor. Um pacote de bolachas sortidas passou de mão em mão, sem cerimônia, sem aquela preocupação moderna de compartilhar algo. Não falavam alto, não faziam gestos teatrais. Apenas estavam ali, como se a praia fosse um território que sempre lhes pertenceu. Entre um mergulho e outro, conversavam, talvez relembrando antigos carnavais, tempos de fôlego maior, cabelos cheios e barrigas menores. Mas as risadas não vinham pesadas de nostalgia amarga. Não havia lamento pelo que passou, apenas um entendimento silencioso de que o tempo rouba, mas também devolve. Não juventude, mas a permissão de não se importar mais com o que não volta.
A vida ali não lhes pedia afobação. O mar repetia sua marchinha infinita, e eles, eles apenas existiam. Em um mundo onde tudo precisa ser útil, postado, validado, curtido, havia algo de subversivo na forma como ocupavam aquele espaço, sem pedir licença. Nenhuma conversa sobre dinheiro, doenças ou fracassos. Apenas um gole lento de cerveja barata e morna e o sal entranhando na pele. Um deles fechou os olhos, inclinou a cabeça para trás e suspirou. Os outros o imitaram, como num pacto mudo. A vida, por um breve instante, foi irrepreensível.
O sol, esse relógio que não precisa de ponteiros, começou a afundar no horizonte. Alguém olhou as horas, e a única preocupação finalmente surgiu: o ônibus de volta. Porque, no fim, a vida sempre cobra um retorno, um tíquete de regresso ao mundo. Levantaram-se sem pressa, sacudiram a areia dos bermudões largos, recolheram as latinhas vazias. Deixaram a praia sem ansiedade, sem tristeza.
Não houve suspiros exagerados ou olhares melancólicos para trás. Porque, talvez, o grande segredo seja esse: saber a hora de ir, sem a ilusão de aprisionar o instante. Os momentos perfeitos nunca se anunciam.
Eles simplesmente acontecem. E a única coisa que nos resta é habitá-los enquanto duram.