Turismo - o que pensam sobre este assunto urussanguenses que atuam no setor
- MARCIA MARQUES COSTA
- 17 de abr.
- 5 min de leitura
Em um cenário onde o turismo é frequentemente discutido como uma ferramenta vital para o desenvolvimento econômico, Urussanga precisa ainda superar desafios significativos que comprometem seu potencial. Para entender melhor essa realidade, o Jornal Panorama conversou com pessoas envolvidas ativamente no setor turístico e cultural da cidade. Urussanga, conhecida por sua rica tradição italiana e produção de vinhos, enfrenta desafios significativos para desenvolver seu potencial turístico. Empresários e especialistas do setor compartilham suas perspectivas sobre a situação atual do setor e os obstáculos que precisam ser superados.

Heraldo Krueger, empresário, com uma trajetória de dez anos à frente do restaurante Recanto da Figueira, expressou sua preocupação com a falta de união entre os comerciantes locais e a carência de investimentos em infraestrutura. “Se fala em união no setor de gastronomia, mas ela não existe”, afirmou, destacando que tentativas anteriores de colaboração se perderam em disputas internas.
A infraestrutura turística é um ponto crucial levantado por Heraldo. Ele observou que não há investimentos significativos há anos, o que limita as oportunidades para o setor. “O que é feito de investimento em estrutura hoje? Você tem um parque fenomenal que poderia ter uma vila gastronômica”, sugeriu, citando Siderópolis como exemplo de sucesso em criar um ambiente atrativo para visitantes. Para ele, a falta de um planejamento adequado e de suporte governamental tem sido um obstáculo persistente.
Heraldo também mencionou a importância de projetos que poderiam ter potencializado o turismo na cidade, como o projeto do trem turístico, que não avançou. “Urussanga é meio tipo assim, latinha, né? Hoje não tem mais”, lamentou, ressaltando que há anos não são realizados investimentos efetivos na área.
A visão do empresário é clara: Urussanga possui um histórico que poderia torná-la uma das melhores cidades do Sul para o turismo gastronômico. No entanto, a falta de coesão entre os empresários e o suporte insuficiente das autoridades locais têm prejudicado esse desenvolvimento. “Hoje nós apanhamos para todo mundo”, concluiu Heraldo, enfatizando a necessidade urgente de uma abordagem mais colaborativa e investimentos estratégicos para revitalizar o turismo na região.

Renato Damian, sócio proprietário da Vinícola Casa del Nonno, compartilhou sua perspectiva sobre a situação atual do setor e os desafios enfrentados. Damian disse que, apesar de algumas iniciativas louváveis ao longo dos anos, a infraestrutura voltada para o turismo ainda deixa a desejar. Para o empresário, embora existam aspectos positivos, como a tradição cultural, a culinária italiana e as opções de hospedagem, o principal obstáculo reside na falta de um fluxo turístico consistente.
“Falta muita coisa, mas o principal, nós temos: o caráter turístico. A tradição, a cultura italiana, o vinho, a culinária, tudo isso é um atrativo”, afirma Damiani. No entanto, ele ressalta que é imprescindível promover Urussanga como um destino turístico não apenas isoladamente, mas dentro do contexto da região. “O turismo que eu penso é a região toda. Temos a serra, nosso litoral, minas e águas termais. Isso fortalece mais”, argumenta.
Damian acredita que a promoção conjunta dos atrativos regionais é essencial para gerar um fluxo turístico significativo. “Para haver esse fluxo turístico, a gente tem que vender a cidade”, diz ele. Sem uma estratégia efetiva de marketing e divulgação, as iniciativas locais podem acabar competindo entre si em vez de se complementarem.
O empresário também enfatiza que a população local demonstra boa vontade em desenvolver equipamentos turísticos. Contudo, ele alerta que sem um fluxo contínuo de visitantes, esses esforços podem ser em vão: “Um vai matar o outro porque não tem um fluxo turístico. Tendo um fluxo turístico, todos irão sobreviver”.

Michelle Bonetti, artesã e mosaicista com mais de duas décadas de experiência na área, afirmou que Urussanga é uma cidade rica em cultura e tradições e possui um imenso potencial turístico que ainda não foi plenamente aproveitado.
“Há mais de duas décadas se fala e se trabalha esse projeto turístico sem um impacto verdadeiramente significativo”, disse Michelle. Para ela, Urussanga possui uma variedade de atrativos que muitas vezes são subestimados. “Acredito que temos joias raras aqui na cidade, tanto na região central quanto na rural. O que precisamos é reconhecer e valorizar esse patrimônio. ”
Michelle destaca o turismo cultural como uma das principais vertentes a serem exploradas. “Temos um patrimônio material riquíssimo, com nossas casas tombadas e a arquitetura que remete à colonização italiana em Santa Catarina. Além disso, o nosso patrimônio imaterial, com saberes e fazeres que foram passados de geração para geração, merece ser mais valorizado”, observa.
A artesã também menciona a importância de um trabalho de conscientização junto à população local. “Precisamos fazer o dever de casa primeiro, para que as pessoas reconheçam o potencial turístico da nossa cidade. Por exemplo, muitos urussanguenses não sabem o que é a uva e o vinho guete, produtos que podem ser carros-chefes do nosso turismo”, explica.
Michelle acredita que é fundamental investir em infraestrutura e divulgação para atrair visitantes. “Depois de sensibilizarmos a população local sobre o que temos a oferecer, podemos partir para uma divulgação mais ampla – regional, nacional e até internacional. O potencial existe; já trouxemos pessoas do Brasil inteiro e da América Latina para conhecer Urussanga, e elas se interessam em consumir o que temos aqui”, relata.
Com sua experiência em mosaico artístico e seu trabalho como agente cultural ao lado da irmã, Michelle tem se empenhado em trazer novidades para a cena artística da cidade. “Resgatamos tradições italianas que nossos antepassados não puderam desenvolver e agora estamos contribuindo para uma nova fase cultural em Urussanga”, conclui.

Anderson Coelho, que há quase três décadas dedica-se ao setor de turismo, destacou a riqueza gastronômica da região, mencionando as vinícolas como um dos principais atrativos. “Hoje o turismo em Urussanga tem potencial. Temos gastronomia muito boa. Temos as vinícolas, que na minha opinião são o principal”, afirmou.
Entretanto, Anderson apontou algumas lacunas que ainda precisam ser preenchidas para que a cidade possa realmente prosperar nesse setor. “Eu acho que o setor hoteleiro é pouco. Precisamos de mais estrutura para acomodar essas pessoas em Urussanga”, registrou. Para ele, a carência de opções de hospedagem pode limitar o fluxo turístico e a capacidade da cidade em receber visitantes.
Anderson também elogiou as iniciativas recentes da nova gestão municipal, que busca parcerias com outros municípios e um maior engajamento na promoção do turismo local. “Está procurando fazer acontecer”, disse ele, ressaltando a importância de uma abordagem proativa por parte do governo local.
Anderson sugeriu a criação de um centro gastronômico no parque municipal, onde as famílias poderiam desfrutar de um dia de lazer com boa comida e música ao vivo. “A praça é muito legal, mas temos o Parque Municipal que deveria ser aberto todos os fins de semana. Montar um centro gastronômico no local seria fantástico”, defendeu.

Mateus Talamini, fundador da agência de turismo Travel Tour Talamini, destacou a necessidade urgente de investimentos e iniciativas que possam revitalizar o potencial turístico local.
Com mais de vinte anos discutindo propostas para o desenvolvimento do turismo em Urussanga, Talamini expressou sua frustração com a falta de ações concretas por parte da administração municipal.
“A nossa cidade é uma cidade histórica, bonita e com uma forte descendência italiana. Temos vinícolas interessantes e arquitetura histórica que poderiam atrair turistas, mas atualmente não existem incentivos suficientes para isso”, destacou ele.
O empresário enfatizou que é crucial que a prefeitura invista em marketing e na criação de atrativos turísticos. “Deveríamos ter campanhas que realmente chamem a atenção dos turistas. Além disso, seria importante colocar alguém no cargo de confiança que realmente entenda de turismo e não apenas qualquer pessoa”, sugeriu Talamini. Ele acredita que um bom gerenciamento pode incentivar novos investimentos no setor, como restaurantes e pousadas.
Comparando Urussanga a cidades vizinhas como Nova Veneza e Siderópolis, Talamini ressaltou a importância da divulgação da história local. “Essas cidades têm conseguido atrair turistas porque promovem suas histórias e patrimônios. Aqui, tudo está muito fechado; precisamos abrir as portas e mostrar o que temos”, afirmou.
Para Talamini, o futuro do turismo em Urussanga depende de ações coordenadas entre o poder público e os empresários locais. “Se conseguirmos dar esse primeiro passo, acredito que outras pessoas também se sentirão motivadas a investir aqui”, concluiu.