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Foto do escritorJORNAL PANORAMA SC

Teatro no legislativo: bancada PPista muda discurso e fecha cortina ao esclarecimento


DE PÉ DA ESQUERDA P/ DIREITA, MANIFESTAÇÃO DOS VEREADORES CONTRÁRIOS A INSTAURAÇÃO DA COMISSÃO PROCESSANTE : ROSEMAR SEBASTIÃO, ODIVALDO BONETTI, ZÉ BIS E THIAGO MUTINI.


“Quem me conhece sabe, eu sou a favor de toda e qualquer investigação dos atos do Poder Executivo”.

Este trecho do pronunciamento do vereador Odivaldo Bonetti em sessão anterior à da votação para formação da Comissão Processante, veio somar-se ao discurso quase cívico do vereador Thiago Mutini que, também em sessão anterior, afirmou: “como líder de bancada do Partido Progressista, do partido do prefeito Gustavo, falo por mim, pelo vereador Zé Biz e falo pelo vereador Bonettinho, a gente é totalmente favorável a qualquer tipo de investigação.

Podem contar conosco os outros seis vereadores, os três do PP - Partido Progressista vão ser favorável a qualquer tipo de investigação.”


Mas entre o discurso e a prática há um mar de profundezas inimagináveis com fenômenos que podem mudar as correntes e ocasionar acontecimentos imprevistos como o da terça-feira desta semana 21/9, quando a bancada PPista mudou radicalmente de posição e não titubeou um segundo para levantar e afirmar sua contrariedade à aprovação da instalação de uma Comissão que, como eles já sabiam, iria fiscalizar e julgar se os atos apontados como suspeitos e irregulares realmente haviam sido cometidos pelo prefeito Gustavo Cancellier, o qual foi indiciado pela Polícia Federal, entre outros crimes, por peculato e organização criminosa.


Essa mudança de comportamento da bancada PPista foi amplamente criticada em redes sociais da internet, inclusive com ex-prefeitos se posicionando sobre o assunto.

Entre eles, o ex-prefeito Ruberval Francisco Pilotto, que considerou errada a condução do legislativo ao impedir um esclarecimento de denúncias, e também o ex-prefeito José Vânio Piacentini . Vânio, mostrando toda sua contrariedade, disse que o atual momento seria adequado para que o prefeito Gustavo Cancellier pedisse sua renúncia.


Muito criticadas também foram as faixas com dizeres que induziam a transferir ao Poder Judiciário a responsabilidade para resolver os problemas das denúncias contra o prefeito Gustavo feitas no legislativo.

Certamente, conhecedores da legislação, vários urussanguenses viram estes cartazes como uma desculpa da falta de ação dos vereadores que apoiaram o prefeito. Isso, porque está na legislação a garantia desta prerrogativa aos vereadores que, em casos como estes, podem ser Fiscais e Juízes com poder de isentar ou cassar o Prefeito.


Na verdade, estendendo o filme desde o momento da denúncia feita na Câmara, parece termos um enredo de peça teatral que prima pela criatividade.

Primeiro vieram os discursos da bancada PPista indicando independência do Executivo, destemor com os resultados da investigação e desejo de transparência, criando na população uma expectativa de que os três votariam favorável à instauração da Comissão Processante.

Depois, talvez numa tentativa de minimizar os estragos na imagem de sua bancada na Câmara quando mudasse de postura e também blindar o prefeito denunciado de qualquer julgamento, a Executiva do PP tomou a decisão de ser contrária a qualquer tipo de investigação e assumiu um poder que não lhe compete, ao anunciar que poderia até cassar o mandato dos seus vereadores que não obedecessem suas determinações.

Mas ao invés de transformá-los em militantes fieis e obedientes perante à opinião pública, a decisão foi vista como fora do contexto e um erro grasso, que mostrou para a sociedade um partido dividido perdendo importantes e históricas lideranças e que aumentou a revolta popular por parecer um ato ditatorial.


Para Gustavo Cancellier, que não poderá se candidatar novamente a prefeito, o resultado foi certamente o que de melhor poderia ter acontecido. Mas, se algum dos vereadores que votaram contra a instauração da Comissão tiverem intenção de ampliar seu espaço na vida político-partidária, a situação é diferente.

Tendo a oportunidade de afastar a dúvida que paira sobre a honestidade no Paço Municipal, os vereadores do PP - Odivaldo Bonetti, José Carlos José (Zé Bis) e Thiago Mutini mudaram o discurso e se aliaram ao vereador do PDT Rosemar Sebastião para vedar qualquer possibilidade de esclarecimento, derrubando a votação da Comissão Processante numa sessão que parece ter sido apenas a continuidade de uma peça teatral que teve as cortinas fechadas antes do epílogo no legislativo.


O resultado, com 4 vereadores contra a instauração da Comissão e 5 a favor,não conseguindo os 6 necessários, revoltou manifestantes que estavam no lado de fora da Câmara, os quais gritavam palavras mostrando seus descontentamentos com a votação.

A manifestação popular fora do plenário foi considerada um tumulto pelo presidente da Casa, mesmo com um grupo de policiais e três viaturas do lado de fora garantindo a segurança, e, assim, numa atitude que impediu inclusive a manifestação dos próprios vereadores sobre o assunto do dia, Bonettinho encerrou a sessão.


Já os apoiadores do prefeito Gustavo comemoraram a impossibilidade de esclarecimento das acusações através da Comissão Processante e, alguns deles, saíram em carreata buzinando por ruas da cidade. Houve até quem soltasse foguetes para comemorar.

É bom registrar que o resultado da sessão da última terça, também mexeu na estrutura dos partidos que compõem a coligação que governa o Município, e vários integrantes do PP e PDT abandonaram suas siglas.

Com certeza, o ocorrido na Câmara de Vereadores na noite do dia 21/9/2021 não será esquecido, podendo servir de farto material para a oposição em eleições futuras. Isso, é claro, se no decorrer dos próximos anos frente ao governo do Município, o prefeito Gustavo Cancellier não conseguir provar inocência em todas as denúncias e os indícios de irregularidades apontados pela Polícia Federal.

Ao final de tudo, ficará uma dúvida: haveria desgaste menor ou maior se, desde o começo, os vereadores PPistas tivessem assumido uma posição contrária à instalação da Comissão Processante?




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