Semana Santa: orações no calvário, malhação de Judas e galinhada com amigos marcavam a data
top of page
  • Foto do escritorJORNAL PANORAMA SC

Semana Santa: orações no calvário, malhação de Judas e galinhada com amigos marcavam a data

Por Marcia Marques Costa

João Gabriel Maccari - o doador da cruz de granito no Monte Calvário


Vindos de um continente onde a igreja católica tinha poder quase de Estado, ditando normas que influenciavam diretamente no modo de viver das pessoas e a fé era alimento para a esperança de dias melhores, normal é registrar que os colonizadores de Urussanga trouxeram em suas bagagens as tradições religiosas do mundo europeu do século XVIII.

Imagens da Nossa Senhora, Cristo crucificado ou de santos que posteriormente tornaram-se padroeiros de comunidades, chegaram em baús que foram carregados pela mata desde Azambuja e esperaram a construção das residências para ganharem lugar de destaque, onde nonas viúvas vestidas de preto e demais familiares costumavam ler orações em latim.

Os menos afortunados, que não puderam trazer imagens, usaram seus talentos para dotar capelas com seus santos preferidos, a exemplo de artesãos como Angelo Cataneo e Bepi Frassetto que esculpiram imagens em madeira, as quais estão atualmente no Museu Arquidiocesano em Brusque/SC.

A vida seguia um ritual que levava em conta as datas consideradas importantes pela igreja católica.

Assim, vivia-se a alegria do nascimento de Jesus, chorava-se a sua morte e comemorava-se a sua ressurreição.

A Quaresma e a Semana Santa eram épocas em que mais se presenciavam os costumes católicos, onde os fiéis abdicavam do prazer de saborear carne vermelha nas segundas, quartas e sextas-feiras.

Havia também a proibição de se cantar ou dançar durante este período, sendo que a confissão era obrigatória na Semana Santa.

Na Sexta-feira Santa cumpria-se a penitência de subir o Monte Calvário, fazer Vigília participando da Hora Santa rezando e velando o Corpo de Cristo na igreja matriz Nossa Senhora da Conceição e também de vestir o terno ou vestido mais bonito para participar da procissão do Senhor Morto, que remete a uma das passagens da Via Crucis : o calvário e a crucificação de Jesus Cristo. Essa era a época em que os Padres se revezavam nos confessionários para escutar todos os pecados dos arrependidos fiéis.

Com a alma leve por terem sidos perdoados, alguns partiam para costumes que não condizem muito com as pregações deixadas pelo mestre Jesus, como a Malhação do Judas e o furto de galinhas para as tradicionais festas com os amigos, antes da ressurreição do filho de Deus.

Dizia-se que Jesus estava morto e, portanto, não podia ver os pecadores vingar sua morte malhando o traidor Judas (um boneco de pano que era amarrado em algum lugar para apanhar ou então ateado fogo), e nem quando estavam no galinheiro de algum vizinho pegando umas penosas para a farra do dia seguinte, que seria com polenta, galinha ensopada e vinho. A tradição de furtar galinhas era travessura para os ragazzi della Benedetta, cabendo às damas a tarefa de preparar os ninhos para atrair os “coelhos” que trariam os doces aos familiares no Domingo de Páscoa. Estes dois costumes, ao que se sabe, acabaram se perdendo. Primeiro porque dar uma surrar ou tocar fogo no Judas passou a ser visto como um ato de barbárie e, quanto às galinhas, acabaram-se os galinheiros no centro da cidade, onde há lei proibindo a criação deste tipo de animal.


O Calvário

A madrugada da Sexta-feira Santa sempre começava movimentada. Muitas famílias preferiam ir ao Monte Calvário fazer a Via Crucis, rezando e acendendo velas no percurso, antes de nascer do sol.

Um fato curioso nesta história é que a cruz de granito que até hoje se destaca no Monte Calvário em Urussanga foi doada por um imigrante que veio do Líbano, um país diferente dos colonizadores da cidade: o Chefe da Mineração Geral do Brasil - João Gabriel Maccari, que residia onde hoje situa-se o Parque Municipal.

Segundo anotações feita pelo pároco Monsenhor Agenor Neves Marques, a data de inauguração da atual cruz de granito no Monte Calvário do centro de Urussanga é 7 de abril de 1950. Portanto,ela está com 71 anos.


Quem foi João Gabriel Maccari

No livro Tanti Anni Dopo, dediq uei um capítulo sobre esse personagem da história de Urussanga.

Por volta de 1941, Urussanga se preparava para receber o procurador Geral da Minerasil -João Gabriel Maccari. Era um homem importante que viria com sua família residir numa área de terras que anteriormente pertencia à família dos imigrantes italianos Domênico Fachin e Maria Zannin, ele natural da província de Belluno e ela de Treviso, os quais foram os primeiros proprietários.

De Domênico, a posse da terra, por descendência, passou para Eduardo e Domênica e, por último, a Frederico. Porém, com direito a usufruto de seus pais, e por estes, então, foi vendida à companhia mineradora.

João Gabriel veio de um lugar muito distante para tornar-se um urussanguense de coração.

Juntamente com sua família, ele saiu do Líbano, de uma aldeia chamada Chuair, para estabelecer-se em São Paulo. A doença do pai levou-o de volta à terra natal, contudo, alguns anos mais tarde, ele retornou ao Brasil para ficar com seu padrinho – Nami Jafet, um dos fundadores do poderoso Grupo Jafet, dono da Mineração Geral do Brasil-a Minerasil.Quando chegou a Urussanga, era casado com uma libanesa, com a qual tinha três filhos.

Como ela não se adaptou, voltou para a cidade paulista de Santos e Maccari ficou morando sozinho no local que escolhera para ser o seu paraíso.

Após o falecimento da primeira esposa, João casou-se com Maria de Jesus Cavalcanti de Albuquerque, chamada por todos de Dona Gesa, que conheceu na cidade do Rio de Janeiro. Com ela, teve mais três filhos.Criou para si um Retiro Pamir e contratou o famoso Roberto Burle Marx para moldar a paisagem daquele que hoje é o Parque Municipal de Urussanga. Lá, ele recebeu autoridades nacionais, inclusive o deputado federal João Fernandes Campos (1934-1945), o qual tornou-se o vice de Getúlio Vargas e o conhecido presidente Café Filho.

O Pamir tornou-se um centro de decisões políticas da região, sendo a hospedaria de militares graduados, governadores, deputados e altos gestores do Grupo Jafet, que na época era uma potência econômica a nível nacional.

bottom of page