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  • Foto do escritorJORNAL PANORAMA SC

SÉRGIO MAESTRELLI

Norzinho, um descendente Xokleng no Bairro Brasília


Índios Xokleng, portugueses, açorianos, africanos, italianos, alemães, poloneses, russos... Essa foi a sequência da ocupação das terras banhadas pelos Rios Tubarão e Urussanga. Nesse caldeirão de etnias e na miscigenação das raças, surge um povo, surgem lugares chamados de Grão Pará, Gravatal, Orleans, Lauro Muller, Azambuja, Criciúma, Nova Veneza, Urussanga... Entre as etnias, não ocorreram apenas escaramuças, brigas e desentendimentos. Amores e paixões também se entrelaçaram. E o nosso personagem Norzinho é fruto de uma dessas histórias.

Em seus antepassados, a índia Xokleng, Castorina Fausta I,II,III.

No início da imigração europeia (alemã, italiana e polonesa), do Imaruí à Pedra Furada em Orleans, Lauro Muller e Bom Jardim muitos índios Xokleng foram dizimados em confrontos inevitáveis. Numa dessas escaramuças, num desses ataques contra os índios, uma índia enrola uma indiazinha na tarimba (pequena cama de madeira, rede ou esteira) e a coloca em lugar seguro. Ela sobreviveu e foi criada por uma família de alemães que tinha engenho de farinha de mandioca em Gravatal, SC. Lá a indiazinha Xokleng cresceu e trabalhou próximo ao Caruru, em Pedras Grandes. Seu nome: Castorina Fausta, a indiazinha da tarimba, está na árvore genealógica do Norzinho. Nos trabalhos do engenho de farinha de mandioca, ela subia e descia escadas com um saco de farinha na cabeça e outro nos braços. Demonstrava perícia, grande senso e poder de equilíbrio, conforme relato das gerações passadas. As gerações se sucederam. Vamos, então, mergulhar na linha do tempo. Vamos efetuar uma viagem. Engate a marcha ré. Giulia - 13 anos (7ª Geração) – Júlio - 47 anos e Roseli (6ª Geração) – Orlando, o Norzinho - 70 anos e Catarina (5ª Geração) – Antenor, o Norzo e Maria Silva (4ª Geração) – Antônio e Castorina Fausta III (3ª Geração) – Índio Xokleng e Castorina Fausta II (2ª Geração) e Índio Xokleng e Castorina Fausta I (1ª Geração). Na família, o registro de quatro Castorinas: três índias Xokleng e a Castorina atual, uma das irmãs do Norzinho. Os antepassados do Norzinho estão sepultados no Caruru, no Pouso Alto em Pedras Grandes, em Gravatal, na Costa do Imaruí (Madre) e em Grão Pará (Aiurê/Serra do Corvo Branco).


Norzinho


Orlando Zisínio, ou simplesmente Norzinho, nasceu na localidade de Santana, em 13 de setembro de 1952. Filho de Antenor Antônio Zisínio e Maria Silva. Seus avós maternos: Thomaz Onorato e Odina da Silva Onorato. Seus avós paternos Antônio Zisínio e Castorina Fausta III. Hoje, prestes a completar 70 anos, numa conversa, tendo o capô de uma saveiro como mesa, ele contou com aquela paciência indígena, a sua história. Com três anos, lá vai ele para Tubarão, a Cidade Azul, pois seu pai, carroceiro por profissão, executava fretes para a Estrada de Ferro Dona Thereza Christina. Em 1961, retorna a Urussanga com 9 anos. Voltou para Santana com seu pai, atuando na Minerasil, na exploração do carvão e, posteriormente, escolheu seu canto no Bairro Brasília para viver e, daqui, não saiu mais.


Calceteiro e Vereador

Pós-graduado na arte de pavimentar ruas, ele sabe como ninguém tratar a pedra de granito, a lajota e a montar taipas. Calceteiro de mão cheia, no Governo de Lydio De Brida/Ary Silva, ele efetuou, em 1968, o calçamento da Rua do Sapo, a Rua Siqueira Campos, o seu primeiro trabalho. Na Administração Ado Cassetari Vieira/Valdemar José Bettiol, Norzinho efetuou o calçamento em círculo com paralelepípedos de granito, na entrada do Retiro Pamir, atual Parque do Vinho. Nessa época, foi para Blumenau e calçou a PROEB, o território do chope, o templo da futura Oktoberfest. Outras obras registradas, os pátios das Empresas Eliane e Transportes Cocal. Sobre os problemas e reclamações das lajotas soltas, em voga atualmente, afirmou que nas atuais ruas a lajota é “jogada e não assentada. Taí a origem do problema”. Em nossa entrevista/conversa, lembrou com saudade e alegria seus companheiros calceteiros: Antônio Henrique, Costinha Casagrande, Maneca Preto, Bigorrilho, Nilton Serrano, João Mendes... No Bairro Nova Itália, participou da construção da escola, da igreja, do calçamento de ruas e de obras de saneamento. Mas a sua vida não foi apenas assentar e martelar pedras de granito e lajotas. Para agitar um pouco a sua vida, mergulhou na política. Foi vereador pelo MDB por dois mandatos. O primeiro na administração de Vanderlei Olívio Rosso/Ítalo Rafael Zaccaron (Tito). Nos tempos da administração José Vânio Piacentini/Iris Cancellier, elegeu-se para um segundo mandato e assumiu o comando do Poder Legislativo em 1995. Afirmou que lidar com pedras e lajotas era menos problemático e mais simples do que lidar com as pessoas e o constante conflito de interesses e ideias.


Da origem do apelido Norzinho

Seu pai Antenor Zisínio possuía o apelido de “Norzo”. Ele tinha dificuldade com a pronúncia da língua portuguesa e, ao comentar um determinado fato com um amigo, disse que sentia “norzo” daquilo, ou seja sentia “nojo”. E assim foi apelidado por seus amigos de “Norzo”. E o filho, por herança, recebeu o apelido de “Norzinho”, o filho do “Norzo”.


Concluindo com a sabedoria Xokleng

Finalizando, Norzinho, do alto do Bairro Brasília, olhando para a magnífica visão do por do sol se escondendo nas montanhas de Belvedere, num misto de saudade, nostalgia e serenidade afirmou: “Raiz é tudo”. E eu acrescento: “A árvore que despreza as suas raízes, seca”.


Do Território Xokleng


Xokleng, Bugre (termo pejorativo para designar o selvagem), Botocudo (em virtude do enfeite labial usado pelos homens) são termos utilizados para designar o indígena que vivia em nossa região. Trata-se de indígenas distribuídos em três grupos: um vivendo nas cabeceiras do Rio Negro e parte do Paraná, outro no Alto e Médio Vale do Itajaí e o terceiro no Sul Catarinense (nos vales dos Rios Capivari, Tubarão e Urussanga) e parte do norte gaúcho. Já a área litorânea era de domínio dos índios Tupi-Guarani ou Carijós. A nação Xokleng constituía um grupamento humano nômade. Senhores deste território, durante séculos, percorreram livremente esses rios, serras, montanhas e vales cobertos de matas. Seu modus vivendi estava baseado em aldeias no interior da floresta com reduzido número de membros. Da floresta, extraíam o sustento com a caça, a pesca e a coleta de frutos e, nesse item, tendo o pinhão como alimento essencial. Com a marcha da imigração e colonização europeia (alemães, italianos, poloneses), terra e floresta se transformaram em tesouros em disputa e, desse modo, índios e imigrantes se encontraram para um inevitável abraço de sangue. Um confronto que não era um desejo, mas, sim, uma contingência, que não era uma escolha e sim uma fatalidade. Sejam imigrantes ou índios, ambos foram personagens de uma retirada imposta pela miséria, fome e humilhação, que não envolvia ambição, mas lágrimas. Os índios defendendo o velho lar e os imigrantes tentando fundar seus novos lares, de acordo com as palavras tomadas emprestadas do Monsenhor Agenor. Relatos de confrontos entre índios e colonos foram registrados em Urussanga (Rio Carvão, Rio Salto, rio Caeté, Rio Deserto), em Lauro Muller (Palermo), Orleans, bem como na própria sede da Colônia alemã de Blumenau. Os índios eram vistos pelo Governo como obstáculos à ocupação. Desse modo, o Governo e alguns colonos recorreram a uma política genocida centrada na figura do bugreiro que praticamente provocou o extermínio de 2/3 da população indígena a tiros de escopeta, ou executados a fio de facão. Soma-se a isso outro inimigo, a tribo indígena Kaingang, cuja luta era contínua. As tentativas de pacificação também se transformaram em tragédia envolta em aspectos negativos, pois provocaram epidemias de gripe, varíola, doenças venéras, alcoolismo e praticamente destruíram a cultura, seus costumes e tradições. Atualmente, a etnia Xokleng conta com uma população de aproximadamente 2.300 integrantes, como esta criança Xokleng em acampamento indígena na Floresta Atlântica.


Lindof Bell

Lindof, Bell, escritor e poeta, amigo e nosso vizinho do município de Timbó, falecido em 1998, cujo sítio se transformou na Casa da Cultura, é autor de vários livros.

Em “O Código das Águas”, escreveu um poema para o índio Xokleng que transcrevemos abaixo:



Poema para o índio Xokleng


Se um índio xokleng subjaz

no teu crime branco

limpo depois de lavar as mãos


Se a terra

de um índio xokleng

alimenta teu gado

que alimenta teu grito

de obediência ou morte


Se um índio xokleng

dorme sob a terra

que arrancaste debaixo de seus pés,

sob a mira de tua espingarda

dentro de teus belos olhos azuis


Se um índio xokleng

emudeceu entre castanhas, bagas e conchas

de seus colares de festa

graças a tua força, armadilha, raça:

cala a tua boca de vaidades

e lembra-te de tua raiva, ambição e crueldade

Veste a carapuça

e ensina teu filho

mais que a verdade camuflada

nos livros de história.


PÍLULAS

  • Neste final de semana que passou em Rio dos Americanos, (Rio América Baixo), tivemos o retorno das festas que honraram Santa Rita de Cassia e o Sagrado Coração de Jesus. Um evento religioso à moda antiga com paraninfos, padrinhos. Depois dos atos religiosos, o som de Mario Pacheco Acústico e o sorteio da já tradicional derla de produtos coloniais. Alguém saiu da festa com a “derla” nas costas. E esse alguém foi o Agostinho Vendramini. Então, Agostinho, além de agradecer à Santa Rita, agradeça também ao Santo Agostinho, o grande filósofo e teólogo da Igreja.

  • “A Influência das Distorções Harmônicas nos Erros Premeditados, Previstos ou Casuais”. Essa pesquisa produz artigos científicos que não apenas Deus duvida, mas o diabo também.

  • E por falar em pesquisa, cumprimentos da nossa cidade ao rotariano e engenheiro agrônomo Henrique Belmonte Petry, que brilhou como presidente do XXVII Congresso de Fruticultura, realizado em Florianópolis. Ele foi eleito presidente da Sociedade Brasileira de Fruticultura. O maracujá faz coisa. Desejamos excelente gestão a este profissional da Epagri que atua aqui na Estação Experimental da Epagri de Urussanga (EEUR).


ATTENTI RAGAZZI


Já dizia a Epístola aos Tessalonicenses: “Todo joelho se dobrará e toda língua se confessará”, inscrição lida na Praçinha da Localidade de Esplanada. Portanto, acalmai-vos, irmãos ou exaltai-vos irmãos. Nesses dias, na política da Benedetta, nitroglicerina pura.


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