Na foto acima: de pé, da esquerda para a direita: João ( Nani Batti), Santos Felippe e sua esposa Jurema Bez Batti, Sílvio Bez Batti e sua esposa Zulmira Freccia, Antonio De Bona Marchet e sua esposa Elzira Bez Batti. Sentados, da esquerda para a direita: Angelina e seu esposo Angelo Bez Batti e Rosina Minotto - a segunda esposa de Lucas Bez Batti.
Historiadores, geólogos e cientistas ainda não conseguiram datar o início da fabricação de pães.
Há os que acreditam ter sido no Mesopotâmia,há mais de 12 séculos, onde hoje é o Iraque, o local onde se iniciou o cultivo e a moagem do trigo e, também, o fabrico de pães com uma massa cozida sobre o fogo.
Cerca de 3 mil anos antes de Cristo, os sumérios começaram a assá-los em cerâmica e por volta de 1,8 mil anos antes de Cristo os egípcios descobriram o fermento e como tornar o pão mais macio.
Na Europa e na Itália, ele chegou bem mais tarde, por volta de 250 anos antes de Cristo.
E foi na Itália, que viu nascer um dos impérios mais poderosos da história da humanidade- o romano e que abriga o estado do Vaticano com sua milenar igreja católica, que o pão se tornou alimento apreciadíssimo e adquiriu uma aura sacra.
De complemento na mesa farta do Rei ao único alimento na miserável residência dos súditos, o pão tornou-se o corpo do Filho de Deus a ser lembrado em rituais nas missas.
Durante séculos o pão fez parte da alimentação do italiano que, incorporando seus costumes locais, acabou criando uma variedade enorme que, atualmente, conta com mais de 300 tipos de pães.
Hoje, a Confederação Nacional dos Cultivadores Diretos afirma que nos últimos dez anos o consumo de pão na Itália caiu pela metade, estimando que cada italiano come diariamente cerca de 85 gramas de pão.
Pouquíssimo se levarmos em conta que a média de consumo per capita por volta de 1860/1870, época de reunificação da Itália e em que os imigrantes vieram para Urussanga, era de 1,1kg por pessoa, ao dia.
Em Urussanga
Tendo por base a quantidade de pão consumida pelos italianos daquela época, pode-se ter noção da insatisfação dos imigrantes que colonizaram Urussanga, ao chegar em mata virgem e não encontrar o precioso trigo para fabricar o alimento base da dieta em continente europeu.
Até que a matéria prima fosse cultivada e beneficiada na região, o trigo era artigo de luxo e muita polenta e minestra foram feitas para substituir o pão nas refeições e dar forças aos imigrantes para os exaustivos dias de trabalho.
Por volta de 1920, há informações de que a viúva Carmella Bresciani Bez Batti fazia pães, bolachas e bolos para vender e sustentar seus quatro filhos.
Mas, segundo informações de Armando Bettiol, a primeira padaria de Urussanga nos moldes que hoje conhecemos, pertenceu ao senhor João Crema.
“Naquela época havia pouca variedade. Tínhamos o pão de rala (com erva doce), o chamado provence, o pão de bico, o de sopa que era em forma de avião e dois tipos de biscoitos,” informa Armando ao acrescentar que João Crema produzia refresco com gás nos sabores de limão e framboesa com água do poço da família Bettiol quando acontecia a festa de 8 de dezembro.
“Posteriormente, Angelo Bez Batti montou uma padaria pequena em uma sala aqui ao lado da Praça e servia toda noite amendoim torrado. Quando chegava o pinhão da Serra também vendia pinhão cozido. O pão deles era muito bom, mas naquela época ainda na existia o pão d’água” explicou Armando.
De Angelo Bez Batti, a padaria passou para a administração do senhor Antônio De Bona, mais conhecido por Marchet e casado com uma das filhas de Angelo - a Elzira.
Marchet fez grandes melhorias e construiu um poço dentro da padaria para fazer o pão com água de qualidade.
Era a década de 1950, quando a água distribuída para o centro da cidade vinha de uma represa no terreno de Angelo Nichele, local onde urussanguenses costumavam se banhar em dias quentes.
Para garantir que ninguém comeria pão com água de banho, Marchet manteve um poço dentro da padaria, mas teve o cuidado de fechar o piso e deixar apenas uma bomba manual para retirar a água quando necessário. ( foto acima)
Além de se preocupar com a qualidade da matéria prima, Marchet introduziu o primeiro serviço de entrega a domicílio, o atual delivery.
Para aumentar suas vendas, Marchet contratou o adolescente Otávio Cancellier, que viria a ser tio do atual prefeito Gustavo Cancellier, para que ele fosse de casa em casa com uma cesta de pães para vender.
“ Essa rapaz, com seus 13 ou 14 anos, com uma cesta de vime cheia de pão em cima de uma toalha branca como a neve, ia de casa em casa e vendia tudo. Seu Marchet não dava conta de produzir” relatou Armando. Nas décadas seguintes surgiram outras famílias como a da senhora Irene De Pellegrin com sua padaria na Avenida Presidente Vargas, seu Edgar Cordini e Lígia Bez Batti no início da Praça Anita Garibaldi e, posteriormente, Vitório Da Ré Zanatta ao lado da igreja matriz. Destas, apenas a iniciada por seu Vitório ainda é mantida pela família.
E o prazer de comer um pão fresquinho ou as delícias oriundas da farinha de trigo continuam a fazer parte da cultura local. Numa população de praticamente 20 mil pessoas, Urussanga conta com muitas padarias, confeitarias , mercados e supermercados que tem produção própria, além de urussanguenses que produzem seus próprios pães, bolos e bolachas.
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