Mulher que nomeia Praça de Urussanga é lembrada em seu bicentenário de nascimento
- MARCIA MARQUES COSTA
- 2 de set. de 2021
- 6 min de leitura

Reverenciada no Brasil e na Itália, Anita Garibaldi é um nome conhecido e respeitado internacionalmente.
Nascida em 30 de agosto de1821, filha de Bento Ribeiro da Silva e Maria Antônia de Jesus Antunes, Anna Maria de Jesus Ribeiro era a caçula de uma família humilde que vivia no interior do município e, posteriormente, instalou-se no centro de Laguna. Historiadores nos informam que Anna foi obrigada a casar-se com 14 anos de idade com um sapateiro chamado Manuel Duarte de Aguiar, o qual a abandonou quatro anos depois alistando-se na Guarda Nacional do Império. Em 1839, aos 18 anos, conheceu Giuseppe Garibaldi, um revolucionário italiano que era contra o imperialismo e se aliou às lutas de gaúchos e catarinenses que buscavam garantir a vida da República de Piratini, proclamada pelos rebeldes em 1836, no Rio Grande do Sul.
A primeira batalha da guerreira catarinense foi na cidade de Imbituba, no Mirante da Praia do Porto, local onde há um monumento para lembrar esta batalha naval.
Depois dessa, a Anna que ganhou de seu amado Giuseppe o apelido de Anita, acompanhou o homem que havia escolhido para viver, em todas as suas lutas e andanças pelo Brasil e Europa.
Em 1848, ela chegou na Itália acompanhada de Giuseppe e os filhos do casal: Menotti, Rosa, Ricciotti e Teresa, indo morar em Nice na residência de sua sogra.
No ano seguinte, acompanhando o marido, Anita participou de batalhas pela reunificação da Itália.
Grávida e vestida de homem participou da batalha contra os franceses na tomada de Roma. Mas as precárias condições em que vivia, a má alimentação, as constantes andanças e a falta de teto para abrigar-se acabaram com sua resistência física. Assim, em 1949, a mulher símbolo da união da pátria italiana faleceu em uma fazenda em Mandriole, perto da cidade de Ravenna, onde há um monumento em sua homenagem.
Em Urussanga, esta mulher que inspirou guerreiros a lutarem pela unificação do país italiano, é lembrada com o nome na praça principal da cidade.
No último dia 30 de agosto, o município de Laguna, dando continuidade às comemorações do bicentenário de nascimento de Anita, fizeram mais um ato em homenagem a sua famosa filha. Na oportunidade, uma placa foi anexada ao monumento com o objetivo de marcar os 200 anos dessa história que aproxima dois países. Cerimônia contou com a presença do prefeito de Laguna Samir Ahmad, do vice-prefeito Rogério Medeiros, da presidente da Fundação Lagunense de Cultura Vanere Rocha e do grupo ‘Guardiãs de Anita’.
Prefeito em exercício fala sobre a personagem histórica

Em entrevista à reportagem de Panorama SC, o prefeito interino Jair Nandi disse que Urussanga foi imensamente feliz em escolher o nome de Anita Garibaldi para a sua praça principal.
“ É bom lembrar que a história desta mulher catarinense, além de estar ligada a movimentos sociais que combateram o imperialismo no Brasil, também é lembrada nas lutas pela reunificação da Itália, exatamente do país de onde vieram os imigrantes que colonizaram a nossa Benedetta”, afirmou Nandi ao acrescentar que a coragem e o exemplo desta mulher serve de estímulo para todos, na busca de soluções para os problemas hoje vividos.
Ex-Prefeito participa de cerimônia em homenagem a Anita em Laguna

Já o ex-prefeito Johnny Felippe, visto na foto ao lado com o prefeito de Laguna - Samir Ahmad, participou na última segunda-feira 30/8 da cerimônia de descerramento da placa colocada no monumento de Anita Garibaldi na referida cidade litorânea e alusiva ao bicentenário de nascimento da heroína.
“ Fiquei emocionado em participar daquele momento pela importância que Anita teve na história do Brasil e da Europa, considerada a Heroína de Dois Mundos. Foi um dia especial, onde homenagens foram prestadas simultaneamente na Itália, Uruguai, em várias cidades no Brasil, inclusive no Congresso Nacional” afirmou Johnny.
Pinheiro Machado foi o primeiro nome dado à praça central de Urussanga

Um mapa antigo de Urussanga, cuja autoria não foi ainda confirmada, revela que o primeiro nome dado para a atual Praça Anita Garibaldi homenageava um homem.
Seu nome: José Gomes Pinheiro Machado.
Nascido em 8 de maio de 1851 em Cruz Alta, no Rio Grande do Sul, José ingressou no curso preparatório para a Escola Militar do Rio de Janeiro em 1864 aos 13 anos de idade. Com apenas 15 anos já se voluntariou para a Guerra do Paraguai e, após ser dispensado por ter contraído doença pulmonar, fixou-se em São Paulo, onde cursou a faculdade de Direito.
Concluído os estudos, José voltou ao seu estado de origem e foi eleito senador em 1891, participando da 1ª Constituinte Republicana.
Homem carismático, dominou a máquina política do Rio Grande do Sul e conquistou a liderança no Senado, formando um bloco majoritário sob seu total controle.
Graças a isso, articulou as lideranças políticas do Norte e Nordeste, de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul a favor da campanha de Hermes da Fonseca à Presidência da República, contra o candidato dos paulistas, Rui Barbosa, em 1910.
Sua intenção era chegar à Presidência, mas acabou perdendo para o candidato que tinha o apoio dos poderosos da política café-com-leite, os quais dominavam a República Velha no Brasil.
Morreu em 8 de setembro de 1915, apunhalado no Rio de Janeiro pelo padeiro desempregado Francisco Manso de Paiva.
Equipe Panorama na Praça Anita Garibaldi na Itália

Em novembro de 2012, quando os diretores deste semanário, Sérgio e Marcia, visitaram a Itália pela segunda vez, incluíram no roteiro um ponto muito significativo entre o país europeu e Urussanga: a cidade de Ravenna, onde se localizava a Piazza Anita Garibaldi, heroína de dois continentes que dá nome também para a praça central de Urussanga.
Esta praça italiana foi criada um ano após a fundação de Urussanga, em 1879, após a demolição das casas que ficavam ao longo da avenida que dá acesso à estação ferroviária.
O nome da praça homenageia a brasileira Anna Maria de Jesus Ribeiro, a esposa de Giuseppe Garibaldi, que faleceu por doença durante os combates pela reunificação da Itália. No centro, há um monumento com dois leões colocados nos cantos representando os quatro anos cruciais para os conflitos do Risorgimento,ou seja, em 1831, 1848, 1859 e 1870. No topo, uma figura feminina semelhante à deusa Atena simboliza a cidade de Ravenna oferecendo uma coroa de louros a um soldado morto. Os baixos-relevos de bronze retratam dois episódios da vida de Anita Garibaldi, a heroína do Risorgimento.
Para os diretores do Panorama SC, esta visita foi uma oportunidade de conexão com o passado e de reverenciar a memória de uma gente destemida, capaz de dar sua própria vida na esperança de um futuro melhor para todos. Na ocasião, a cidade de Ravenna prestava suas homenagens com coroas de flores no monumento.
SAIBA MAIS
Cidade Natal
Embora Anita Garibaldi seja uma personalidade conhecida mundialmente, poucos foram os documentos encontrados comprovando a veracidade de muitas afirmações feitas sobre sua vida. Um primeiro ponto que vem sendo discutido já há bastante tempo é quanto ao seu local de nascimento.
O município de Laguna, que tomou para si o berço da heroína mundial, disputa com Tubarão e Lages essa honra, sendo que até o momento não se tem conhecimento de um documento oficial que prove o verdadeiro local de sua procedência.
Sem descanso
E essa disputa não ficou apenas com o local onde Anita nasceu, estendendo-se também após sua morte. Ainda segundo historiadores, Anita teria morrido em uma fazenda agrícola perto de Ravenna, quando Giuseppe foi derrotado em uma batalha, e o corpo da mulher foi arrastado com uma corda no pescoço e enterrado rapidamente na mata para evitar contágio, por temor de transmissão de doença para as tropas garibaldinas. O corpo foi encontrado posteriormente e levado a um cemitério das proximidades.
Depois, com medo que os restos mortais fossem roubados pelos monarquistas, os soldados de Garibaldi recolheram os restos mortais de Anita e a enterraram em local escondido.
Padre Francesco Burzatti descobriu o furto dos restos mortais e conseguiu recuperá-los prometendo enterrá-los dentro da igreja, promessa que cumpriu.
Mas o apaixonado Giuseppe queria levar sua amada esposa para a França, cidade de Nice, onde sua mãe cuidava dos filhos do casal.
Contudo, ela ainda não descansaria em paz.
Mussolini, o governante italiano que tinha seguidores até em Urussanga e Nova Veneza, levou os restos mortais da catarinense de volta para a Itália. Somente após a construção de um monumento na Passegiata del Gianicolo, seu sétimo e último sepultamento garantiu-lhe a paz eterna.
Sem certidão
Conforme já foi falado anteriormente, o local e a data de nascimento de Anita Garibaldi são desconhecidos. Sua certidão de nascimento datada de 30 de agosto de 1821 é um documento concedido pela Justiça de Santa Catarina no ano de 1990, após a solicitação de uma Comissão formada por Lojas Maçônicas, UNISUL, Câmara de Vereadores de Laguna e Instituto Anita Garibaldi.
Ligada na Benedetta
Para encerrar, vale acrescentar que o urussanguense Adílcio Cadorin foi um dos autores de livros que retratam a história de Anita Garibaldi e, na qualidade de prefeito de Laguna, criou o famoso evento “ A Tomada de Laguna”, transmitido em rede nacional de televisão pela Rede Globo.