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Morte do filho do prefeito Luca Bez Batti leva o Urussanga Futebol Clube a ficar sem campo na década

Foto do escritor: MARCIA MARQUES COSTAMARCIA MARQUES COSTA


Urussanga 142 anos - a viúva do futebol


Na foto acima, a família de Polidoro: da esquerda para a direita: as filhas Ida, Lígia, a viúva Carmella, o filho Rubem e a filha Lea.


8 de dezembro de 1925.

O dia estava bonito, a temperatura agradável e os urussanguenses recebiam seus visitantes para a única grande festa que existia na cidade: a da Imaculada Nossa Sra. da Conceição.

Missa rezada em latim, senhoras com véu na cabeça para adentrar na pequena igreja e muita gente ajudando o pároco Padre Luigi Gilli no churrasco que serviria na arrecadação de fundos para ajudar a pagar a pretendida construção da torre e da nova igreja.

O dia era de festa, de missa, almoço com parentes e amigos, baile na casa ao lado da residência do prefeito Luca Bez Batti e, para os que amavam o futebol, dia de disputar a partida contra os visitantes que haviam chegado de Laguna.

Urussanga, embora ainda não tivesse nenhuma associação oficializada em documentos, tinha o seu Urussanga Futebol Clube, com italianos fortes e músculos trabalhados na enxada, para fazer rolar a bola no campo que ficava no local próximo onde hoje se situa a Prefeitura Municipal.

A vitória no jogo era troféu e motivo de muita alegria para todos, e bastante comum era os filhos e mulheres dos atletas assistirem as partidas. E neste ano de 1925, a vitória deveria ser brilhante para mostrar aos recém chegados Juiz e promotor da Comarca, o talento futebolístico dos italianos.

Segundo relatos de pessoas que viveram aqueles momentos, a partida transcorria normal com a disputa sendo bastante acirrada , pois o time de Laguna contava com bons atletas em seu plantel.


Mas a almejada vitória urussanguense não chegou.

O atleta Polidoro Bez Batti (foto ao lado), que tinha 31 anos de idade, sofreu uma queda durante o jogo e, como consequência, teve uma fratura exposta na perna.

E se hoje, com toda a tecnologia, estrutura e conhecimento disponíveis uma fratura exposta é considerado algo grave, imagina-se o que não deve ter sido em 1925 quando a cidade contava com poucos recursos e nem anestesia geral era procedimento comum.

Ao invés de gritos de gol ou músicas de festa, os urussanguenses que residiam no centro da cidade e aqueles que vieram para a festa da padroeira ouviram naquela tarde foram gritos de dor.

Sem poder ser transportado em carroça ou cavalo até Pedras Grandes para ir pegar o trem para Laguna, onde poderia encontrar esperança maior de cura, Polidoro foi tratado em Urussanga com os remédios disponíveis.

A fratura infeccionou, gangrenou e, numa última e desesperada alternativa, sua perna foi amputada.

No dia 24 de dezembro de 1925, véspera de Natal, a viúva Carmela Bresciani Bez Batti e seus quatro filhos- Rubens, Lígia, Ida e Léa levaram Polidoro para o cemitério localizado aos fundos da igreja matriz Nossa Sra. da Conceição.

Polidoro era um dos filhos do primeiro casamento do ex-prefeito Luca Bez Batti com Fiorentina Savi.

A comoção foi tão grande que, segundo relato de Armando Bettiol, o prefeito da época mandou que fossem retiradas as traves do campo de futebol . A preocupação era que mais alguém se machucasse e viesse a falecer por falta de estrutura médico-hospitalar.

Polidoro foi um atleta lutando pelas cores do Urussanga Futebol Clube quando ele ainda nem existia oficialmente e que literalmente morreu em consequência da disputa em campo.

Mas se o futebol ficou de luto e parado até 1931, quando o Urussanga Futebol Clube foi oficialmente fundado , a morte de Polidoro evidenciou de imediato as carências existentes na Vila e uniu a comunidade em torno de conquistas que garantiriam maiores chances de tratamentos na área de saúde.

Hoje, quando Urussanga completa 142 anos de fundação, conta com um hospital a sua disposição e unidades de saúde espalhadas pelo Município, é preciso reverenciar a memória daqueles que preparam a estrada para que pudéssemos caminhar com mais facilidade.

Certamente, muitas outras famílias viveram situações tristes e que trouxeram muitas dificuldades no início da colonização e, a todos que lutaram bravamente para nos legar esta linda Benedetta, a Equipe Panorama SC registra seu respeito e agradecimento neste mês de aniversário de Urussanga.

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