Capivaras nos açudes da Estação Experimental Epagri em Urussanga
Considerada o maior roedor do mundo, a capivara (Hydrochoerus hydrochaeris) pode chegar aos 136 centímetros de comprimento e pesar mais de 91 quilos.
É um animal gregário, que vive em bandos que variam de 10 a 100 indivíduos em lagoas, rios, savanas alagadas e pântanos, sendo encontradas também no interior de florestas tropicais úmidas.
Quando os ambientes em que vivem secam ou se tornam desfavoráveis, tendem a migrar para outros locais, frequentemente movendo-se para o interior de cidades ou zonas de pasto, nos quais os lagos ou açudes são mantidos para uso do gado, criação de peixes, cultura de arroz ou com objetivo paisagístico.
Entretanto, a falta de predadores desses animais como as onças e sucuris está ocasionando o crescimento de suas populações de forma desenfreada. Em diversas regiões do país, as Hydrochoerus tornaram-se uma ameaça para lavouras e plantações, gerando prejuízos para pequenos agricultores.
Em Urussanga não é diferente.
Na Estação Experimental da Epagri de Urussanga - EEUR, onde há vários tipos de plantações para os estudos, as capivaras já são um problema.
Podendo serem vistas em bandos com mais de 20 indivíduos nos açudes utilizados para a cultura de arroz, elas acabaram exigindo um investivento em medidas preventivas para evitar a invasão e destruição das plantações. Além disso, a proximidade do local com a pista da movimentada SC 108, tem ocasionado temor do risco de acidentes no local.
Segundo o gerente da EEUR - Alexsander Luis Moreto as capivaras geram preocupação.
“ Hoje elas são um problema para nós. Como temos bastante água dentro da Estação, elas transitam dentro do nosso espaço. Mas nós temos muitos experimentos sendo feitos e não podemos fazer nada porque é uma espécie nativa protegida por Lei. O que podemos fazer para tentar mitigar um pouco o problema causado pelas capivaras é cercar as áreas de experimento. Temos cercas elétricas protegendo as áreas que nós não queremos que elas tenham acesso e estamos implantando também cercas com telas. Mas, às vezes, elas ultrapassam estas barreiras e acabam prejudicando as plantas dos nossos experimentos.Alguns são estudos de dois ou três anos, elas causam danos físicos grandes nas plantas nos fazendo perder anos de avaliação. Outra medida que estamos tomando é tentar deixar secar alguns açudes próximos às matas, esvaziando-os para que não fiquem um local adequado para elas se aglomerarem” explicou Alexsander.
Ao ser questionado se já havia buscado auxílio em outros órgãos governamentais, o gerente da EEUR afirmou que já entrou “em contato com Polícia Ambiental, IMA e até o momento não nos deram uma solução. Então estamos tomando medidas internas, como já foi falado anteriormente, na defesa dos nossos trabalhos na Estação e até de proteção com relação a saúde, uma vez que corremos o risco de sermos contaminados e acabar com a febre maculosa”, concluiu o gerente da EEUR.
Já o presidente do Sindicato dos Agricultores e Agricultoras de Urussanga - Adefonso Baesso, informou à reportagem de Panorama que também no interior do município o problema existe.
“Nós temos a presença de capivaras em quase todo o município, mas há uma região onde os estragos são maiores. Na região de São Pedro e também na região que faz divisa com a localidade de Pindotiba o problema é maior. No resto do município está controlado, por enquanto. Mas, passando na frente da Epagri outro dia fiquei assustado com o número de capivaras que estavam lá. Acho que precisamos pensar no futuro com relação a esta questão, porque a capivara não tem predador na região e o aumento da população certamente chegará a criar uma situação insustentável para os agricultores e também para a população. Porque a capivara, além de acabar com as plantações nas pequenas propriedades, também transmite doença” afirmou Adefonso Baesso.
Da doença
O presidente do Sindicato tem razão em se preocupar, pois as capivaras podem desencadear também um grave problema de saúde pública.
Isso porque elas são reservatórios da doença chamada febre maculosa, que é causada pela bactéria Rickettsia rickettsii e transmitida pelo carrapato-estrela (Amblyomma cajennense).
Ao picar e se alimentar de sangue, o carrapato infectado pode transmitir a doença por meio de sua saliva, após cerca de 6 horas de contato.
Depois do contágio, a bactéria irá se alojar no cérebro, pulmões, coração, fígado, baço, pâncreas e tubo digestivo, causando febre intensa, dores de cabeça, náuseas, diarreia, inchaço e vermelhidão nas palmas das mãos e nas solas dos pés, e manchas na pele, de 2 a 14 dias após a infecção. Se não tratada, a doença pode gerar gangrena e paralisia, resultando em morte de 60% dos indivíduos portadores.
E isso já aconteceu no Brasil, sobretudo nos estados de São Paulo e Minas Gerais, o que desencadeou uma série de programas para eliminar os maiores roedores do planeta de diversas cidades.
Em 2009, um centro de pesquisa foi criado em Campinas, onde capivaras infectadas foram isoladas para o controle da doença. Entretanto, em 2011, após três funcionários morrerem pela doença, a prefeitura autorizou o abate de mais de 40 capivaras na cidade.
Em 2019, novos casos foram relatados em Itatiba – SP, onde, mais uma vez, o abate foi autorizado.
Entretanto, simplesmente afastar a capivara não soluciona o problema.
Ao serem retiradas do local, os carrapatos infectados continuarão existindo e poderão buscar outros animais para se alimentarem, afastando-se da água e invadindo pastos ou, até mesmo, áreas residenciais, onde infectarão cavalos, cães e pessoas.
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