Do petróleo em poço de água ao Vinho de Uva
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  • Foto do escritorJORNAL PANORAMA SC

Do petróleo em poço de água ao Vinho de Uva

Por Marcia Marques Costa


Urussanga é canteiro fértil de criatividade e de belas histórias. Principalmente quando o ingrediente exigido é o bom humor. Fazer pegadinhas com os amigos, inventar apelidos engraçados ou contar piadas, tornou-se marca dos habitantes que herdaram dos colonizadores o espírito brincalhão.

Desde os tempos iniciais até hoje, rir, ainda que seja da própria desgraça, é algo comum por estas bandas de rios com águas frias agora poluídas e já com poucos urus.

Um dos relatos antigos e que rendeu muitas gargalhadas nas décadas de 1950 e 1960 foi a história da descoberta de petróleo na Praça Anita Garibaldi.


Foto arquivo Panorama SC - Quiosque e bomba de gasolina na Praça Anita Garibaldi

Da esquerda p/ direita: Armando Bettiol, Nelson Rocha, Volnei Hilbert, Ávila e Vilson Hilbert


Petróleo em poço de água


Acontece que, segundo Aldo Garcia, um antigo residente da Benedetta, na década de 1950 havia em Urussanga as chamadas Bombas de Gasolina.

Uma ficava nas proximidades do Hotel Gazzolla e pertencia aos Irmãos Trento. Outras duas ficavam no início da Praça Anita Garibaldi, sendo a de bandeira Atlantic de propriedade de Sílvio Bez Batti e outra de bandeira Texaco pertencente a Rosalino Damiani.

Na foto que ilustra esta página, pode-se ver uma das bombas mencionadas e que, provavelmente, deve ser a de propriedade de Sílvio Bez Batti, haja vista que fica defronte ao casarão da família de mesmo nome.

É interessante observar que nesta década havia um quiosque no local onde hoje fica o chafariz e o Monumento ao Colonizador.

O fato é que, certo dia na pacata cidade, surgiu a notícia de que estava jorrando petróleo no poço de água da residência de Sílvio Bez Batti, já devidamente refinado em gasolina. O proprietário , preocupado com vazamento, acionou a empresa fornecedora. A bomba foi desativada e o tanque acabou sendo desenterrado para inspeção. Para surpresa de todos, o tanque estava perfeito.

Rosalino Damiani, então, acionou a Texaco. O tanque foi desenterrado e, para sua tristeza, estava com três grandes furos e deixando vazar o petróleo em forma de gasolina que parava no lençol freático e jorrava no poço de água da residência do vizinho que era proprietário da bomba concorrente.

No final desta história, os dois ficaram sem as bombas de gasolina porque as empresas fornecedoras consideraram o terreno da Praça impróprio para colocação destes tanques (com terreno muito irrigado no subsolo) e Teonaz Rocha acabou construindo o primeiro posto de gasolina em Urussanga, da bandeira Esso, e que ficava próximo ao hospital.

Hoje não há mais bombas de gasolina e nem quiosque na Praça Anita Garibaldi, mas ainda é lembrada a época em que se dizia, normalmente em meio a boas risadas, que Urussanga era terra do vinho, do carvão e do petróleo em poço de água.

Pode parecer estranho que em 1950 Urussanga tivesse três bombas de gasolina. Mas deve-se levar em conta que, naquela época, Siderópolis, Morro da Fumaça, Treviso e Cocal do Sul pertenciam ao município de Urussanga que, por sua vez, era caminho obrigatório entre o Norte e Sul do país. Além disso, vivia-se o auge da atividade extrativista com as minas de carvão mineral e a famosa máquina Marion a todo vapor revirando o solo urussanguense.

Banho no rio

Também foi a água, só que do rio Urussanga, a causadora de muito constrangimento para um estudante e de muitas gargalhadas para quem soube da sua provação.

Esta história, relatada pelo amigo Armando Bettiol, aconteceu por volta da década de 1930 quando a escola Tibúrcio de Freitas funcionava no casarão no Morro da Igreja Matriz.

Segundo ele, seu irmão mais velho - Adão Bettiol, saia da escola no recreio para se deliciar nas águas do rio que corta o centro da cidade e que, naquela época, tinha peixes em abundância. Só que, para não molhar as roupas, costumava tomar banho nu, deixando seus trajes e sapatos amontoados no meio do mato.

Incomodada por ver o garoto pelado tomando banho no rio que passava atrás de sua residência, uma senhora foi se queixar com a Diretora da Escola.

Esta, usando a técnica do aprendizado conquistado “por livre e espontânea pressão”, não falou nada para o Adão que nem folha de parreira costumava usar, e também não havia percebido que a dita moradora o via tomar banho no rio.

A Diretora ficou observando o aluno e, no dia em que deu falta dele na sala de aula, foi até o rio recolhendo todas as roupas do menino.

Assim que terminou, Adão foi procurar suas roupas e não encontrou. Já com frio e sem poder voltar para a escola ou para casa, decidiu entrar na água para tapar sua nudez, já sentindo-se preocupado com a reação dos pais se soubessem o que ele tinha feito. A lição foi dura. A Diretora o deixou de castigo até de tarde, quando entregou suas roupas e explicou porque tinha feito isso.

Essa façanha acabou sendo motivo de muita chacota entre os alunos e resultou no fim de banhos no rio em horário de aula. Nem Adão e nem outro aluno qualquer se arriscou a ter suas roupas levadas pela Diretora.


Vinho de Uva

Na área cultural, a piada é com referência aos ensinamentos passados para os descendentes de imigrantes.

É lenda na Benedetta que, certa feita, um produtor de vinho famoso estava muito doente e prestes a morrer. Seu filho, que não era lá muito chegado no trabalho e costumava acrescentar água para aumentar a produção do vinho, resolveu aprender a técnica usada pelo pai antes que o mesmo se dirigisse a outro plano espiritual.

Sentado ao lado da cama , perguntou ao ancião: “pai o que é mais importante para se fazer um bom vinho?”

Nisso o pai, sabedor das emendas feitas no líquido apreciado por Bacco, disse: “filho, só posso te dizer que, de uva também se faz vinho!”.

Até hoje esta frase ainda é utilizada quando se quer fazer menção a pouca qualidade de um vinho.


Reza congelada

Outra história ou estória que vive no imaginário popular, também relacionada à água, é a ocorrida no município de Nova Veneza.

Contam que, certa feita, desesperado com a seca que assolava a região e o faria perder todo o seu parreiral, um agricultor rezou muito pedindo chuva. E ela veio em abundância, só que em forma de granizo destruindo toda a produção de uvas, uma grande fonte de renda da propriedade rural. Revoltado, já calculando todo o prejuízo, o agricultor pegou um crucifixo que tinha em casa, segurou-o com as duas mãos defronte ao seu rosto e começou a caminhar por entre as plantas destruídas dizendo: “porco Zio, dum porco Zio! Olha o que tu fez, Cristo de um Cristo!”.


Morto de novo

Já, na década de 1970, o humor negro veio com a água quando Urussanga e toda a região sofreram com a grande enchente de 74. Lembro, com saudades, do estúdio da Rádio Fundação Marconi no último andar do Edifício Kennedy e do momento em que o saudoso locutor Cláudio Santos, na ânsia de comunicar mais um falecimento ocorrido na região, acabou anunciando: “morreu novamente” o fulano de tal.

Embora a tragédia tenha ocasionado comoção naquela época e ainda nos dias de hoje, não houve quem não gargalhasse com a gafe do locutor famoso por atuar como Chica Pelanca ao lado do também saudoso e até hoje não substituído Marcolino Trombim.


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