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História - professoras ameaçadas de perder emprego por falar italiano

Em seu livro Tanti Anni Dopo, a escritora Marcia Marques Costa fala sobre esse assunto, mostrando um relato feito por um inspetor escolar quase uma década após o início do movimento pela nacionalização, conforme transcrição a seguir.


“Um fato que merece registro, por simbolizar e provar a forte repressão aos imigrantes que falavam italiano, pode ser visto no relatório anual do inspetor da 32ª Circunscrição do Departamento de Educação do Estado de Santa Catarina - Paulo Preis, no ano de 1948.

A 32ª Circunscrição abrangia os municípios de Urussanga e Jaguaruna, mas é preciso lembrar que Urussanga tinha, em seu território, os municípios posteriormente emancipados: Siderópolis, Morro da Fumaça, Cocal do Sul e Treviso.


Em suas anotações datilografadas, há uma página tratando especialmente da nacionalização, na qual esta escrito:

“Não poderia deixar de fazer menção especial a um problema complexo como é o da Nacionalização.

Já afirmei, em reunião de professores, que não se nacionaliza por decretos, nem pela ação policial, mas a Nacionalização, a nosso ver, é de ação indormida e constante, através de gerações, pois que os hábitos e costumes não se reprimem, mas se substituem, formando-os paulatinamente.

Urussanga continua com o problema da formação de hábito e uso do idioma nacional, com a correta pronúncia. Em muitos termos de visita tive oportunidade de referir-me à citada situação. É verdade que, em diversas localidades, ainda que constante seja o esforço dos professores, há muito que fazer. Outras localidades, felizmente, já se vão amoldando.

Outra verdade incontestável se nota por toda parte: os professores empregam todos os meios ao seu alcance para formar o hábito e a correta pronúncia. Uma ou duas tristes exceções tenho a anotar. Não quero aqui mencionar nomes, pois quero aguardar o início do ano letivo de 1949 para propor a remoção para meios caboclos dessas professoras, caso não desistam de suas funções, pois não pode haver meias medidas em assunto tão sério e de responsabilidade.

Essas mesmas professoras, ou melhor, posso dizer essa mesma professora tem má pronúncia e existem vestígios de que emprega o idioma italiano quando no convívio de sua família. Deixo aqui a minha exposição para manifestar-me oportunamente, em representação fundamentada, para propor as medidas que se fizerem necessárias.

Muito já se fez e muito se esta fazendo pela Nacionalização em Urussanga, mas também muito esta por se fazer, o que só será possível através de uma ação constante e indormida da escola, influenciando a família e o meio.”

Nesse ano de 1948, Urussanga, segundo dados do mesmo relatório, contava com dois grupos escolares (sendo um na sede do município e outro no distrito de Cocal do Sul), 45 escolas estaduais isoladas, 12 escolas municipais e cinco classes de alfabetização, sendo que três delas não cumpriram com suas finalidades.

E a escola realmente fez sua parte na nacionalização.

No desfile em comemoração ao 80º aniversário de fundação da cidade, no dia 26 de maio de 1958, apenas um tímido pelotão de alunos, trajados tipicamente, homenageava os imigrantes italianos e poloneses.”


Inspetor Paulo Preis


Paulo Preis, foi eleito vereador em Criciúma no ano em que escreveu o relato sobre as escolas de Urussanga.

Membro do Partido Social Democrático (PSD), foi vereador em Criciúma de 1948 a 1951, prefeito da cidade de 1951 a 1955 e eleito duas vezes deputado estadual, nas Legislaturas 1955/1959 e 1963/1967. Foi o prefeito criciumense que elaborou o 1° Plano Diretor , adquiriu terrenos para as construções do Aeroporto Municipal (duas pistas), Colégio Marista, Colégio Michel e Praça do Congresso, além de ter trazido diversas autoridades federais para a região com o intuito de mostrar as riquezas e resolver os problemas locais, a exemplo do então vice-presidente da República, João Café Filho.

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