Prefeito afirma que instauração de Comissão era golpe político

Depois de quatro meses de silêncio, o prefeito Gustavo Cancellier concedeu, na última quarta-feira 29/9, uma entrevista exclusiva ao jornalista Rafael Nieiro, no programa Comando Marconi, na emissora de rádio local, onde falou por cerca de 40 minutos sobre a Operação Benedetta e seus resultados até o momento.
Os equívocos da Polícia Federal
Um dos pontos mais marcantes da referida entrevista, foi a postura radical do prefeito Gustavo contra o conteúdo do relatório elaborado pela Polícia Federal e entregue ao Ministério Público.
A cada oportunidade surgida, ele enfatizava que respeitava a PF mas discordava com ela em vários pontos.
Para o Prefeito que está pedindo seu retorno ao Paço Municipal, a Polícia Federal se equivocou em muitas questões ao ouvir os depoentes e registrar suas conclusões no relatório.
Quando questionado pelo jornalista se ele teve acesso ao processo, o prefeito explicou que os indiciados tiveram esse direito.
“Temos acesso e é por isso que a gente fala, com muita clareza, que existem bastante equívocos dentro do processo da PF” afirmou Gustavo.
Em outro trecho de sua entrevista, Gustavo acrescentou: “existem muitos equívocos neste relatório da PF como eu falei, que eles escutam os denunciantes né... é uma situação muito difícil para a PF, onde ela vai, escuta o denunciante, ele fala o que pensa, e são obrigada depois a depurar o que é verdade e o que é mentira e, nesses momentos, eles, em vários momentos, acontecem estes equívocos”.
Como atualmente o processo corre em segredo de Justiça, quem está de fora não pode fazer uma avaliação justa dos fatos e acaba colocando realmente em dúvida o trabalho, a competência e a seriedade da Polícia Federal, ao ouvir o prefeito da cidade contestar com tanta veemência e segurança o trabalho desta instituição.
A questão política
Um outro ponto colocado por Gustavo durante sua entrevista foi a questão político-partidária.
Numa clara tentativa de induzir a população a pensar que as denúncias feitas ao Ministério Público tinham como único interesse tirá-lo da Prefeitura, o prefeito afirmou que tanto as denúncias feitas antes das eleições quanto as feitas posteriormente foram de cunho partidário. “Então, isso fica claro que foi uma ação política na época e que, após a derrota, após a nossa vitória nas eleições, o pessoal continuou indo fazer denúncias porque precisava realmente tentar nos derrubar no tapetão, porque na eleição e nos votos não conseguiram nos derrubar”, afirmou Gustavo.
Também como intenção de “golpe” foi considerada a instauração de uma Comissão Processante para analisar as denúncias de irregularidades que chegaram até o legislativo urussanguense.
Quase que numa afronta à inteligência alheia, prefeito Gustavo afirmou que ele seria vítima de um “golpe” político e que iriam cassá-lo sem que pudesse se defender.
Na verdade, é de conhecimento público que os envolvidos neste tipo de processo legislativo tem direito de se defenderem e de apresentarem provas de sua inocência.
Tanto é verdade que o próprio jornalista perguntou ao prefeito se este não via a Comissão Processante como um meio de provar sua inocência e, assim, acabar de vez com esta desconfiança que paira sobre a honestidade de sua administração no Paço Municipal.
A contradição
Outro fato que chamou atenção na entrevista foi com relação as tão faladas planilhas do Finisa, as quais, desde a legislatura passada na Câmara de Urussanga, vereadores pediram sem que tenham obtido sucesso.
Inicialmente a explicação era de que todos os dados referentes ao uso dos recursos advindos do Finisa eram encaminhados para a Caixa Econômica Federal e postados no Portal da Transparência. Fato este que é contestado, uma vez que denunciantes afirmaram ter sido necessário buscar cópias de relatórios de obras no Tribunal de Contas do Estado SC, em virtude de não terem sido encontrados no Portal da Transparência.
Inclusive, em sua entrevista na rádio Marconi, Gustavo afirmou não existir nenhuma planilha “oficial” referente a este assunto.
Em outro trecho, no entanto, colocando a culpa novamente no interesse político-partidário, Gustavo afirmou: “essa questão das planilhas, que foram levantadas pela oposição, pela oposição aqui nossa, ficaram o ano todo de 2020 falando em planilhas do Finisa, planilhas do Finisa. E essas planilhas são planilhas que não existem. São planilhas que eram de controle interno dos funcionários, pra ter controle. Uma planilha de Excel que os funcionários tinham pra controlar, que não eram oficiais. Eram planilhas que não tinham a correção, ou seja, elas não eram corretas. Era uma planilha como você faz. Uma planilha de controle que você faz para controlar a sua agenda, mas não é oficial da Rádio Marconi. E é isso que eles queriam. E a gente não pode passar coisas que não são oficiais da prefeitura” argumentou Gustavo.
A explicação também deixou dúvidas. Primeiro porque soou estranho funcionários da PMU controlarem um setor tão importante e com recursos tão vultosos, utilizando-se de uma planilha que não era correta.
Segundo porque, se era somente uma “agenda” não havia motivos para que ficasse no desconhecimento dos que a pediram, podendo ter sido entregue para averiguação e acabar com a dúvida.
A quebra
Pronunciamento do prefeito Gustavo deverá ter desdobramentos. Isso porque, ao tentar explicar sua contrariedade com a instauração de uma Comissão processante, acabou chamando de incompetentes o vereador de sua base- Rosemar Sebastião- Taliano (PDT) e também o vereador tucano Fabiano De Bona. Além disso, afirmou que está descontente com a postura tomada pelo vereador do PSD ao votar a favor da Comissão Processante e que iria se aconselhar com integrantes de seu partido para ver como seriam as relações com o vice-prefeito Jair Nandi e o PSD a partir de agora.