Gustavo chefiou organização criminosa que desviou até dinheiro de IPTU
- MARCIA MARQUES COSTA
- 9 de mai. de 2024
- 4 min de leitura
Denúncia do MPSC foi aceita e participantes da ação da organização criminosa que atuava na PMU viram réus

Prefeito Gustavo saindo do Fórum da Comarca de Urussanga para o presídio em Criciúma - Foto Rádio Marconi
Se os urussanguenses que se assustaram na Operação Benedetta pensavam que não era possível ir mais fundo no poço de irregularidades cometidas pelo prefeito Gustavo Cancellier na prefeitura de Urussanga, o Ministério Público de Santa Catarina deixou bem claro no último 2 de maio, na extensa denúncia com mais de cem páginas, que motivos para indignação parecem nascer a cada investigação feita pelas polícias e pela Justiça.
A trama digna de roteiro hollywoodiano para filme de máfia, e apresentada na referida denúncia, coloca Gustavo como chefão da organização criminosa que se instalou no Paço Municipal e, com dinheiro de contribuintes e cidadãos honestos, trabalhava pelo seu próprio interesse e benefício.
O requinte era tanto que, para ter acesso ao Chefe do Executivo sem que os recados pudessem ser interceptados, era utilizado o celular da 1ª Dama Thaisi Talamini e até o de uma servidora comissionada -Beatriz Frassetto de Bona Sartor. Além disso, para que pudessem fazer a falcatrua, montaram uma comissão de Avaliação que elaborava documentos falsos, aumentando o valor dos terrenos. Como não havia dinheiro para o pagamento, prefeito Gustavo fez uma suplementação de verba no valor de R$ 644 mil, utilizando também dinheiro de IPTU para pagar terreno com valor superfaturado.
Nada passava aos olhos atentos de quem estava com intuito de se apropriar do dinheiro público. Nem mesmo a forma de apresentar a documentação, pois até a fonte do texto no documento o prefeito Gustavo mandou trocar para que não fosse criada qualquer suspeita.
Enquanto o cidadão sofria com a falta de exames e remédios na saúde, falta de apoio na cultura, esporte, turismo, falta de obras nas escolas da rede municipal e precariedade na infraestrutura, a impressão que fica após ler-se as páginas da denúncia do Ministério Público é de que o prefeito Gustavo Cancellier, seus homens de confiança Thiago Mutini e Marcial David Murara (Xixo) tinham como única preocupação criar um esquema perfeito para desvio de recursos públicos do Município.
Seja para usufruir de benefícios financeiros ou apoio político, como foi o caso da aquisição de terreno de propriedade do vereador Elson Roberto Ramos - Beto Cabeludo, um opositor radical que, após vender seu terreno, passou a ser amigo do prefeito Gustavo.
Na conclusão, Ministério Público pediu pela manutenção das prisões de Gustavo Cancellier, Elson Roberto Ramos, Thiago Mutini e Marcial David Murara (Xixo).
Todavia, no fechamento desta edição 9/05, a informação era de que, no pedido feito ao Tribunal de Justiça SC, para revogação de prisão, apenas Xixo foi liberado. Beto deve continuar preso.
Registra-se que no último dia 6 de maio, o Tribunal de Justiça SC acatou denúncia do Ministério Público contra envolvidos na Operação Terra Nostra.
Com isso, o prefeito Luis Gustavo Cancellier, os vereadores Thiago Mutini e Elson Roberto Ramos (Beto Cabeludo) e o ex-servidor comissionado Marcial David Murara (Xixo) tornaram-se réus no processo. Além disso, Ramom Bettiol, Paulo Manoel Serafim, Gabriel Damiani, Filippe Echamendi Possamai, Edson Manoel, Albertina Pedra Serafim, Jerson Maragno e Ademir Brandieli Pedro, que foram investigados na operação, também se tornaram réus.
Estando em vésperas de eleições para Prefeito e Vereadores, cabe a todos os urussanguenses revoltados com esta mancha negra na história da cidade, analisarem muito bem em quem votarão nas eleições de outubro próximo.
Que a história ensine e o futuro da Benedetta seja de paz e prosperidade.
SAIBA MAIS
Segundo informações contidas na denúncia do MPSC, a intenção de adquirir um terreno para área industrial com valor superfaturado já existia no ano de 2021, quando foi apresentado para a Comissão de Avaliação da PMU, um valor alto e fora dos padrões de venda do mercado imobiliário em Urussanga.
A operação só não foi finalizada naquela época porque um dos integrantes da referida Comissão de Avaliação - Arnaldo Bez Batti Junior, não concordou com o valor apresentado e disse que iria fazer pessoalmente uma avaliação.
Posteriormente, Gustavo foi afastado de seu cargo por causa da Operação Benedetta, ocorrida em maio de 2021 em virtude de suspeitas de superfaturamento de obras e desvio de recursos públicos.
Quando Gustavo retornou para a Prefeitura, em Junho de 2022, deu início ao plano que havia sido paralisado.
Montou uma nova Comissão de Avaliação com nomes de sua inteira confiança, deixando fora o empresário que havia questionado o valor do terreno e tocou adiante seu projeto de adquirir por preço superfaturado um terreno para a 3ª área industrial do Município, mesmo sabendo que ainda havia lotes a serem ocupados na outra área industrial existente.
Em maio de 2023 Gustavo nomeou a Comissão que, sob seu comando, legalizou documentos falsos para aquisição de terrenos superfaturados.
Nessa época mais um terreno surge na história, o do vereador Elson Roberto Ramos, que estava registrado em nome de Ramon Bettiol. Vale ressaltar que o próprio Ramon confessou à Polícia que Beto também era proprietário deste terreno que o prefeito Gustavo queria adquirir, também com preço superfaturado.
Ainda segundo a denúncia do MPSC, conversas de whatsapp e outros documentos, mostram como o esquema estava sendo organizado e o interesse do vereador Beto Cabeludo em vender seu apoio ao prefeito Gustavo.
“O modus operandi desenvolvido pela organização criminosa ensejou na desapropriação de, pelo menos, dois imóveis com indenização superfaturada: o imóvel matriculado no Cartório de Registro de Imóveis da Comarca de Urussanga sob o n. 32.732, de propriedade da Cerâmica Belém Ltda., e o imóvel matriculado no Cartório de Registro de Imóveis da Comarca de Urussanga sob o n. 19.729, de propriedade de Ramom Bettiol e Elson Roberto Ramos, o Beto Cabeludo (este, proprietário oculto do imóvel).” O primeiro terreno, adquirido para área industrial II foi superfaturado em quase R$ 500 mil, haja vista que a avaliação da Comissão Municipal de Avaliação de Bens Imóveis era no valor de R$ 1.299.951,08 e a avaliação feita pela perícia apontou que o valor real é de R$ 848.487,00.
Já o lote pertencente ao vereador Beto Cabeludo e Ramon Bettiol, que tinha sido arrematado em leilão por R$ 55 mil, foi adquirido pela PMU pelo valor de R$ 643.540,00.
Em fevereiro deste ano, foi pago 50% do valor para Ramon Bettiol e, no dia 28 de março o prefeito interino Jair Nandi solicitou a suspensão do pagamento das parcelas pendentes.