
Considerada ponto turístico de Urussanga, a igreja matriz Nossa Sra. da Conceição e sua torre são mais que linhas arquitetônicas neoclássicas a lembrar da influência europeia nas edificações urussanguenses.
A cada badalar de sinos na torre ou cantos que ecoam no interior da igreja, há histórias de vidas que contribuíram para que toda essa riqueza cultural e estas belezas chegassem aos nossos dias.
E, entre tantos exemplos de esforço, determinação, coragem e união em busca de conquistas, há também passagens que tornaram-se lendárias. Uma delas é com referência a viagem para aquisição dos sinos da torre.
Segundo o urussanguense Armando Bettiol, após a queda do primeiro sino que foi adquirido para a torre, o Padre Luigi Gilli iniciou uma campanha visando obter recursos para novamente dotar o campanário deste artefato tão apreciado por todos e que, por vezes, servia até de meio de comunicação.
Contando sempre com a generosidade dos colonos urussanguenses, Gilli arrumou bastante dinheiro e, ao invés de um sino, resolveu adquirir um carrilhão de quatro sinos em bronze.
Mas ir a Itália em 1927 era praticamente uma aventura. Com temor de ir sozinho levando tanto dinheiro, o Padre convidou o senhor Pedro Copetti, da localidade de Rio Caeté, o qual prontamente se dispôs a acompanhá-lo.
Feitas as negociações, os dois adquiriram as passagens de volta no mesmo navio dos tão almejados sinos da torre.
Aconteceu que, antes de viajar, o Padre Gilli recebeu a visita de seu paroquiano Caetano Bez Batti solicitando que trouxesse uma espingarda da Itália para que pudesse caçar e até usar como proteção familiar.
De boa vontade, Padre Gilli comprou a espingarda, mas como não era permitido trazer armas para o Brasil, ele e o Pedro a colocaram dentro do sino maior.
Só que quando chegaram ao porto no Rio de Janeiro, os sinos ficaram retidos após a fiscalização porque haviam encontrado a espingarda que não tinha nota fiscal.
Como a nota fiscal dos sinos havia sido apresentada pelo Padre, ele e seu amigo Pedro também foram presos.
Foi então que o Padre sugeriu a seu companheiro de viagem que cada um comesse a metade da nota fiscal da espingarda, para que não houvesse provas de que eles haviam trazido a espingarda.
E assim foi feito. Com a nota fiscal sendo digerida por ambos, sem prova de que havia sido eles, a polícia os soltou.
Mas os sinos continuaram retidos e, para tirá-los da alfândega, seria necessário pagar uma multa.
De volta a Urussanga, mais uma campanha para arrecadar recursos iniciou. Todavia, nem mesmo tendo o dinheiro estava fácil liberar os sinos, os quais acabaram indo para leilão.
Foi necessária a atuação de um influente comerciante do Rio de Janeiro - Luiz Araújo, o qual era casado com uma urussanguense da família Ferraro, para que vários meses depois os sinos chegassem a Urussanga. Mas o lance dado no leilão equivalia ao preço pago pelos sinos na Itália.
Sendo assim, os urussanguenses pagaram duas vezes para ter os sinos da torre da igreja.
E algumas pessoas poderão até criticar a atitude do Padre Gilli ao comprar a espingarda, mas vale registrar que os colonos da Benedetta naquela época viviam em grande insegurança e já havia o trauma causado pelos Maragatos que, passando pela cidade, levaram armas e animais, inclusive um Juiz de Paz urussanguense para ser enforcado.
Mas essa já é outra história. Então, trazer uma arma sem autorização não parecia pecado capital aos olhos de imigrantes embrenhados na mata ao Sul do Brasil.