A vigésima edição da Festa do Vinho aconteceu neste ano de 2022 numa situação completamente atípica na cidade de Urussanga, com uma insegurança político-administrativa instalada no Paço Municipal, onde Prefeito e Vice se alternam na cadeira do Chefe do Executivo após resultados de operações policiais se tornarem processo no âmbito federal e a Câmara de Vereadores tendo uma Comissão Processante instaurada, com ordens sendo entregues por oficiais de Justiça até mesmo durante a sessão do legislativo.
Neste clima, a volta do titular Gustavo Cancellier provocou a exoneração da Comissão Organizadora que havia sido instituída pelo interino Jair Nandi. E isso há pouco mais de 40 dias antes da realização do evento.
Convidado pelo prefeito Gustavo, o jovem empresário Rangel Quaglioto, que foi o criador da Feijuru e tem em seu currículo a organização de vários eventos, inclusive já tendo sido Vice-Presidente da Festa do Vinho há anos, resolveu aceitar o desafio.
Entrevistado pela reportagem de Panorama SC, Rangel conta o que pensa e o que espera que aconteça no setor de turismo e, principalmente, na realização da maior festa urussanguense: a Festa do Vinho.
Panorama SC: Diante de um tempo tão exíguo para organizar um evento grandioso como a Festa do Vinho, o que o levou a aceitar o convite do prefeito Gustavo e a missão de realizá-la?
Rangel: Em primeiro lugar, a nossa cidade.
Eu tenho amor por nossa cidade e jamais irei me furtar de dar minha colaboração em qualquer coisa que for pra trazer benefícios para a cidade e para a nossa gente.
Esse é o primeiro ponto. Eu sabia que era uma missão dificílima, que tinha pouco tempo e que muito do que eu precisava fazer dependia também da boa vontade de outras pessoas.
Mas eu adoro desafios. Então conversei com minha esposa Pietra, com meus familiares e, com a bênção deles, entrei de corpo e alma na organização do evento.
Não foi fácil, havia muito a ser feito, já estávamos às vésperas da festa e a lista de coisas ia desde a divulgação na mídia local, regional e estadual, além da peregrinação da nossa Realeza em eventos de outros municípios, até a organização interna, com um Parque com várias deficiências e ainda tendo que nos sujeitarmos a regras que não conseguimos mudar.
Panorama SC: Por falar em regras, sabe-se que a primeira Comissão deste ano efetuou um contrato que dava autonomia para a empresa promotora de shows, de retirar as pessoas do Parque na tarde do sábado 06/7. Esse fato repercutiu negativamente e houve várias manifestações populares em redes sociais. O que você pensa sobre isso?
Rangel: Eu lamento muito que tenha acontecido. Sou completamente contra retirar pessoas de dentro do Parque, não importa se havia pouca ou muita gente. O fato é que isso não pode acontecer. Aliás, após assumir a presidência da CCO e ler o contrato que havia sido feito pela Comissão anterior, resolvi reunir representantes das entidades, movimento cultural e instituições que atuam durante a Festa, para explicar que nós não permitiríamos que os seguranças contratados pela Comissão fossem usados para retirar as pessoas do Parque. Mas não tínhamos como impedir que a empresa promotora dos shows nacionais fizesse isso. Era cláusula contratual e nós só podíamos obedecer.
Panorama SC: Você acredita que a instabilidade político-administrativa tenha interferido no resultado da XX Festa do Vinho?
Rangel: Com toda certeza. No começo deste ano foi nomeada uma Comissão Organizadora que acabou se exonerando no mês de julho sem ter concluído seu trabalho. Então aceitei presidir a nova CCO, encontrei parceiros que aceitaram o desafio de montar uma Equipe e tocar uma festa que não tinha nem patrocinadores oficiais para minimizar os custos para a municipalidade. A nossa Comissão foi uma Equipe pequena, mas guerreira, dedicada e que trabalhou muito para chegarmos a um resultado de sucesso. Mas a indecisão pesou sim, e muito, para se ter noção, até a placa para ser instalada na entrada do Parque, como é feito em toda edição da festa, só mandamos confeccionar na última semana com medo de que houvesse novamente mudanças no Paço Municipal.
Panorama SC: Diante de todas as adversidades já listadas, você considera que a festa foi um sucesso? Manteve a grandiosidade?
Rangel: Se falarmos em resultados comunitários, as vendas efetuadas pelas entidades nos levam a crer que o resultado foi positivo. Com todas as pessoas que conversei, na Apae, Paraíso e outros, as vendas foram consideradas boas, embora notoriamente o público do evento em si não tenha sido igual ao da festa em que participei como Vice da CCO, no ano de 2016 por exemplo.
Mas há fatores que influenciaram nisso. Vivemos o momento econômico pós pandemia da Covid que dificultou a aquisição de passaportes para muitas pessoas, o pouco tempo de divulgação do evento e também a chuva que acabou atrapalhando nos últimos dias. Ainda assim, eu estou feliz de ter cumprido a missão que me foi dada e ver que as entidades e instituições filantrópicas que participaram conseguiram ter lucro e estão satisfeitas. Isso é o mais importante, pois dali sairão ações que se reverterão em benefícios para a população.
Panorama SC: E para as próximas edições, acredita que há algo a ser mudado?
Rangel: Sim, e muito. É preciso reunir todos que participam da festa, que tem seus espaços no Parque Municipal para uma ampla discussão. Precisamos envolver movimento cultural, comércio, indústria e poder público para, juntos, criarmos um modelo de festa onde os urussanguenses detém o poder de decisão do que será feito. E esta discussão passa por muitos caminhos. Temos a utilização do Parque Municipal e as regras para isso, o modo de controle de venda de ingressos e dos portões, o modo de gerenciamento das vendas das entidades e afins, bem como o aluguel dos espaços lá utilizados e outras questões importantes, onde também está inclusa a cultura italiana no contexto da Festa do Vinho.
Panorama SC: Qual aprendizado você alcançou presidindo a XX Festa do Vinho e que mensagem deixa para os urussanguenses?
Rangel: Eu aprendi algo muito importante: ouvir! É muito comum darmos nossas opiniões, brigarmos por algo que acreditamos, discutir. Mas ouvir o que o outro tem a dizer, abaixar a guarda, duvidar das nossas certezas e buscar o meio termo para uma solução que beneficie a todos é bastante difícil. Isso é amadurecimento emocional e faz toda a diferença no relacionamento com as pessoas. Espero manter esta postura que adotei como Presidente da Festa do Vinho também em outras questões, pois pretendo continuar colaborando com nossa cidade no que for preciso.
A mensagem que deixo é de agradecimento.
A Deus que me deu saúde para enfrentar o desafio, ao prefeito Gustavo por ter confiado no meu nome para cargo, a minha esposa Pietra que me acompanhou em todos os momentos, aos meus familiares que me apoiaram e todos que sendo parte da Comissão Organizadora ou não, colaboraram para que a Festa acontecesse. Desde os voluntários que deram sua parcela de colaboração nos stands das entidades e associações até as Rainhas, Princesas, Embaixatrizes e seus familiares.
Urussanga é uma cidade linda e merece a nossa dedicação e a nossa união para torná-la cada vez melhor. Obrigado a todos!
Vamos com fé, vamos em frente, que nós temos força e Urussanga merece!
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