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  • Foto do escritorJORNAL PANORAMA SC

Carmelita - a interna do Paraíso da Criança que recebeu prêmio nacional no ramo da telefonia


Afirmam os historiadores que, em 1877, um ano antes da fundação de Urussanga, o telefone chegou ao Brasil. O primeiro aparelho foi fabricado para Dom Pedro II e foi instalado no Palácio Imperial de São Cristóvão, localizado na Quinta da Boa Vista, hoje o Museu Nacional no Rio de Janeiro.

Nascia a telefonia em terras tupiniquins e a profissão de telefonista no país. Em 1880 surgiu a companhia telefônica Brazilian Telephone Company e,em 1883, a primeira linha interurbana que ligava o Rio de Janeiro com a cidade de Petrópolis.

A primeira concessão para outros estados foi realizada em 1882, para atender as cidades de São Paulo, Campinas, Florianópolis, Ouro Preto, Curitiba e Fortaleza.

Em 1923 foi criada a Companhia Telefônica Brasileira, a maior empresa de telefonia do Brasil até a criação do sistema Telebras em 1972.

Naquela época, para fazer uma ligação telefônica, era preciso primeiro falar com uma telefonista pois, sem ela, nenhuma ligação poderia ser completada. Sentadas em suas mesas telefônicas, entre um emaranhado de fios e botões a sua frente, essas profissionais tinham que ser discretas, pacientes e educadas. Uma das regras era não interferir nas ligações de modo algum e manter sigilo absoluto das conversas que, normalmente, podiam ser ouvidas fora da cabine em que as pessoas conversavam com seus distantes interlocutores.

Em Urussanga, muitos foram os que se utilizaram da cabine que ficava na central telefônica localizada em edificação na Praça Anita Garibaldi, e algumas urussanguenses participaram deste momento de evolução da comunicação humana.

Uma delas foi Zulma Carmella Tramontin Possamai, carinhosamente chamada de Carmelita.


Da história

Carmelita foi interna no orfanato Paraíso da Criança, onde estudou até seus 12 anos de idade.

Era a década de 1960 e a adolescente que participava do Coral que cantava nas missas da igreja matriz, certo dia ouviu a conversa entre o pároco, a senhora Santina Luciano e Ângela, a mãe de Carmelita.

Como naquela época não era proibido adolescente trabalhar, Padre Agenor e dona Santina perguntaram para Ângela se ela gostaria que Carmelita trabalhasse na Central Telefônica.

Em pouco tempo,feliz com seu primeiro emprego, Carmelita já rodava pelas ruas da cidade levando recados e fazendo todo o serviço externo, sendo o canal de comunicação entre os clientes e a operadora de telefonia.

Em entrevista à reportagem de Panorama SC, Carmelita lembrou emocionada deste tempo de sua vida e hoje, aos 71 anos de idade, diz sentir-se feliz em ter superado tantos desafios e terminar sua carreira recebendo prêmios pelo bom trabalho prestado.

“Eu era uma menina inocente que sonhava em ser freira como as que havia no Paraíso da Criança, quando o Padre Agenor arrumou o meu primeiro emprego.

Lembro que ele me perguntou: quer trabalhar, Carmelita? E eu, claro, responde que sim. Foi então que ele me explicou: tu terás que trabalhar dois anos sem ser fichada. Só quando completares 14 anos é que poderemos te fichar na empresa. Eu não me importei e fui trabalhar. No começo me deram a tarefa de entregar recados recebidos, informar sobre horários das ligações, entregar convites, estas coisas. Eu era uma menina saudável e com muita vontade de vencer na vida, não me importava de caminhar muito por dia pelas ruas da cidade.

Eu trabalhava só meio expediente, na parte da tarde. De manhã eu ia para a escola. Quando completei 14 anos, me ficharam na Companhia Telefônica SA. Era 1º de janeiro de 1964. Hoje tenho cinco carteiras de trabalho, fiquei 50 anos trabalhando no ramo da telecomunicação e me orgulho de ter participado de toda esta evolução que aconteceu neste setor, onde saímos das centrais telefônicas com suas manivelas e plugues para os modernos celulares com toda a tecnologia disponível.

De serviços externos eu passei a ser telefonista e quando fechou a central telefônica em Urussanga, no final da década de 1970, fui trabalhar em Criciúma na Companhia Criciumense de Telefone. Posteriormente trabalhei na Companhia Catarinense de Telecomunicação - CODESC, na TELESC, Tele Centro Sul, Brasil Telecom e por último na OI.

Quando resolvi me aposentar, isso em 2014, quando já havia trabalhado 50 anos nas empresas que foram se sucedendo, comecei a me dedicar mais na empresa terceirizada que eu e meu marido tínhamos.

Essa empresa iniciou, na verdade, ainda na década de 1980 quando surgiram as primeiras tentativas de terceirização no setor e eu, que trabalhava durante o dia na TELESC, ia para o Posto Telefônico que havia terceirizado. Na verdade, eu fui a primeira pessoa em Criciúma a terceirizar um Posto Telefônico. Como havia outros em Blumenau, Florianópolis e outras cidades maiores, fui me espelhando neles e, com muita dedicação e trabalho, conseguimos crescer. No começo vendíamos apenas fichas para as pessoas que não tinham aparelhos telefônicos em casa e usavam os já extintos orelhões e cujos valores determinavam o tempo de uso do telefone.

Depois veio a privatização, lá pelo final da década de 1990 e nós passamos a vender cartões. Surgiram os ditos telefones móveis - os tijolões que se transformaram nos modernos celulares. Na época, quem ganhou a concorrência foi a TIM e depois veio a Global Telecom que atualmente é a Vivo. Foi com as vendas de recargas que eu fui premiada em 1º lugar no Brasil e, por várias vezes, ganhei viagens de presente pela boa performance.

Conheci vários estados do Brasil e também países e, em 2018, eu e meu marido resolvemos parar de trabalhar e vendemos nossa empresa” afirmou Carmelita.

Ao ser questionada sobre o momento que mais marcou sua carreira, Carmelita mais uma vez se emocionou ao lembrar da adolescência.

“O momento que ficou na minha memória como algo muito forte que me aconteceu, foi ainda no início da minha carreira. Eu era apenas uma menina e meu trabalho de levar recados aos clientes da Central Telefônica às vezes exigiam de mim um preparo psicológico que eu ainda não tinha. Pois bem, certa feita fui encarregada de levar o recado que uma pessoa havia falecido. Eu simplesmente não sabia como iria transmitir esta notícia tão triste que iria causar tanta dor. Então, ao chegar na residência, eu fiquei tão nervosa que tive um acesso de riso e me tremia tudo. Vendo meu desespero, eles me deram água com açúcar, que era o que se usava naquela época para acalmar as pessoas, e foram me tranquilizando até que eu consegui contar para eles sobre a morte do parente deles” finalizou a urussanguense que pela perseverança, conseguiu se sobressair num dos mercados mais competitivos - o das telecomunicações.



Seu marido e sócio administrador - Aldo Possamai também comemora esta trajetória de sucesso que iniciou em Urussanga e ambos recebem do Jornal Panorama SC o reconhecimento pelo importante trabalho no desenvolvimento da cidade e da região.

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