Um jovem contador oriundo de Florianópolis na década de 1950, logo se adaptou aos moldes da pequena cidade de Urussanga, vindo a constituir família e tornar-se vice-prefeito da cidade.
Seu nome: Ary Silva.
Hoje, aos 93 anos de idade, Ary relatou à reportagem de Panorama SC lembranças de sua passagem na política local e de acontecimentos que nos mostram o espírito ousado daqueles que edificaram a Benedetta.
Confira, na sequência, parte da entrevista concedida ao jornalista Sérgio Costa:
Panorama SC: Sr. Ary, que lembranças lhe vem à mente do tempo em que foi vice-prefeito de Urussanga?
Sr. Ary: Na verdade, eu nunca exerci de fato o cargo de vice-prefeito e muito menos assumi o comando da Prefeitura. Nunca quis isso. Pode-se dizer que fui um amigo e conselheiro do prefeito Lydio De Brida.
Panorama SC: E como era o prefeito Lydio?
Sr. Ary: Poderia definí-lo com duas palavras, honesto e determinado. Um homem sério, corajoso e que, quando decidia fazer algo lutava até conseguir. Foi assim com a sede da Prefeitura. Naquela época o orçamento era pífio, pequeno demais. Mas Lydio considerou que o município precisava de uma nova sede e que fosse projetada para servir por muitos anos. E assim foi feito.
Ele mandou fazer o projeto, me pedia conselhos sobre orçamentos, mas minha participação efetiva posso dizer que foi só para a cerimônia de lançamento da pedra fundamental.
Na época, eu trabalhava na prefeitura de Criciúma, era Secretário de Finanças do então prefeito Nelson Alexandrino. E o Lydio era muito respeitoso, muito diplomático, pois sempre que desejava iniciar algo, pegava sua caminhonete Rural e ia até Criciúma perguntar para mim. E eu só respondia: tem dinheiro?
Se tem, faz. E sempre que ele ia lá eu falava: Lydio não precisa perguntar pra mim se pode fazer. Tu foi eleito prefeito, o povo confia em ti e eu também. Então se o caixa permite, faça. E foi assim que em quatro anos de mandato ele usou quase todo o orçamento do município para construir a sede da prefeitura que até hoje é usada e muitas outras obras, como abertura de estradas e pontes pelo interior.
Panorama SC: E a história do bem recebido e bem despachado?
Sr. Ary: Este é um fato verdadeiro. Querendo economizar o dinheiro dos urussanguenses, Lydio foi a Florianópolis pedir ajuda ao governo do Estado.
Acontece que, naquela época, o governador era da ARENA, adversário ferrenho do MDB do prefeito urussanguense. O que aconteceu?
Não veio nenhum centavo do governo estadual para construir a prefeitura. Lydio teve que fazer tudo sozinho, só que quando foi marcada a data da inauguração do edifício, a Câmara de Vereadores, cuja maioria era da ARENA, queria que o Governador viesse participar.
Panorama SC: E o Governador veio?
Sr. Ary: Olha essa foi a vez que eu vi o Lydio mais agoniado e disposto a me passar o cargo. Ele chegou para mim e disse: “ o Governador não deu um centavo para a obra e agora os vereadores querem trazer aqui para participar e fazer homenagem. Se eles aprovarem e o Governador vier, peço que me substitua na cerimônia de inauguração’. Eu o aconselhei a não fazer isso, pois iria piorar a situação e dificultar ainda mais o seu governo. No final das contas, o Governador não veio e a Prefeitura foi inaugurada com grande festa e participação dos urussangueses.
A figueira que servia de gabinete para o prefeito despachar
Da redação I
É importante deixar registrado que o senhor Ary Silva também contribuiu em muito para com o Paraíso da Criança, Hospital Nossa Senhora da Conceição, foi Diretor da Rádio Fundação Marconi e Diretor do extinto Colégio Anacleto Damiani, estabelecimento escolar de nível técnico que formou vários contadores na década de 1970, os quais atuam na Benedetta até o dias de hoje.
Em 2013 Ary recebeu, em Florianópolis, honraria concedida pelo Conselho Regional de Contabilidade de Santa Catarina aos profissionais que se destacam pela atuação em favor da classe contábil e da comunidade.
Da redação II
A figueira ao lado da prefeitura de Urussanga é um símbolo da atividade social e política de urussanguenses.
Sob a sua sombra se reuniam MDBistas que apoiavam o prefeito Lydio De Brida, cujo mandato foi de 1970 a 1973, mas também moradores da região que se reuniam para conversar. Aliás, fazer política à sombra de figueiras é algo peculiar à história de Urussanga.
No tempo em que comícios com shows artísticos eram permitidos e até mesmo posteriormente, quando candidatos se apresentavam em Urussanga, as figueiras da Praça da Bandeira e a da Praça Anita Garibaldi viravam alvo de disputas pelas lideranças.
Estrategistas políticos desde a década de 1970, procuravam obter na Justiça a autorização para fazerem seu penúltimo comício na Praça da Bandeira e o último na Praça Anita Garibaldi.
Havia até uma superstição de que não conseguir a figueira da Praça Anita era presságio de derrota na eleição.
Aos poucos esse comportamento de comícios monumentais, com shows artísticos,bandeiraços, foguetes e charangas foi mudando.
Houve eleições em que o final de campanha mostrava uma exibição de forças nas ruas, com carreatas e adesivação de veículos, caminhadas e carros de som fazendo propaganda dos candidatos, tentando induzir o eleitor a pensar que visibilidade partidária era o mesmo que voto na urna.
Esse modelo também foi sendo substituído, tanto por força de lei quanto pela verificação de que nem sempre o número de votos coincidia com o número de eleitores que participaram dos comícios e festas oferecidas posteriormente.
Ao invés de apresentações e discursos em palanques coloridos por bandeiras e fotos de candidatos, ao melhor estilo norte-americano, as campanhas políticas passaram a ser mais direcionadas a reuniões em comunidades, com número limitado de pessoas e nas quais os candidatos a prefeito e vereadores do mesmo partido conversavam com os moradores sobre suas prioridades.
Mas as mudanças devem continuar.
Com as medidas de isolamento impostas por Lei e a impossibilidade de promoverem reuniões nas comunidades, candidatos à eleição este ano terão que inovar em busca de votos para terem sucesso no pleito de novembro.
Komentarze